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Juiz afirma que gabinete de Neno Razuk servia ao jogo do bicho e empregava milicianos

Foto: Divulgação

Redação Plenax – Flavia Andrade

Sentença aponta infiltração do esquema criminoso nas esferas de poder e uso indevido da estrutura pública

O juiz José Henrique Kaster Franco, da 4ª Vara Criminal de Campo Grande, afirmou que o gabinete do então deputado estadual Roberto Razuk Filho (PL), conhecido como Neno, funcionava como extensão de uma organização criminosa dedicada à exploração do jogo do bicho e a outros crimes. A declaração consta na sentença que condenou o parlamentar nesta segunda-feira (15), no âmbito da Operação Successione, conduzida pelo Gaeco (Grupo de Atuação Especial e Repressão ao Crime Organizado).

De acordo com o magistrado, o esquema estava “infiltrado nas esferas de poder”, com uso indevido de recursos públicos para sustentar atividades ilegais e acesso irregular a informações sigilosas da área de segurança pública. A decisão caracteriza o funcionamento do gabinete como uma “interseção institucional”, típica de organizações criminosas complexas.

A sentença destaca que três dos principais operadores do grupo — o major aposentado da PMMS Gilberto Luis dos Santos, conhecido como “Barba” ou “Coronel G. Santos”, o sargento Manoel José Ribeiro, o “Manelão”, e Diego de Souza Nunes — estavam formalmente nomeados como assessores parlamentares no gabinete de Neno Razuk.

O juiz também registrou que materiais relacionados à exploração do jogo do bicho eram impressos dentro da própria Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul (Alems). Segundo a decisão, mensagens interceptadas mostram Diego recebendo ordens para imprimir, em impressora colorida da Casa, fotos de locais onde estavam máquinas caça-níqueis de grupos rivais, além de listas de endereços. Ele também teria sido incumbido de procurar e alugar imóveis que serviriam de base para motociclistas ligados à organização.

Outro ponto considerado grave foi o acesso indevido a sistemas restritos da segurança pública, como o Sigo (Sistema Integrado de Gestão Operacional) e o Infoseg (Sistema Nacional de Integração de Informações de Justiça e Segurança Pública). Segundo o magistrado, a condição de policiais militares da reserva de integrantes do grupo permitia a consulta irregular de dados sobre veículos e pessoas, com o objetivo de monitorar rivais ou identificar movimentações suspeitas em torno da organização.

“O uso desses sistemas não possuía qualquer finalidade funcional e servia exclusivamente aos interesses do grupo criminoso”, afirma a sentença, que aponta desvio de função e possível vazamento institucional de informações sensíveis. Sobre o sargento “Manelão”, o juiz destacou que sua atuação incluía garantir a segurança das operações ilegais e intervir em eventuais abordagens policiais legítimas.

A decisão também menciona diálogos interceptados que indicam conhecimento prévio sobre operações policiais. Em uma das conversas, integrantes do grupo discutem adiar a expansão do jogo do bicho em Campo Grande até a deflagração de uma operação contra um grupo rival, ligado ao MTS, braço do PCC na exploração da contravenção.

Há ainda registros de mensagens atribuídas a Neno Razuk orientando subordinados a não entregar veículos à polícia, com frases como “acho que não deveria entregar” e “segura tudo aí”, conduta interpretada pela Justiça como tentativa de obstrução das investigações.

Principal alvo do Gaeco desde a primeira fase da Operação Successione, deflagrada em 5 de dezembro de 2023, Neno Razuk foi condenado a 15 anos, 7 meses e 15 dias de reclusão, em regime fechado, além de 5 meses de detenção, em regime aberto, pelos crimes de organização criminosa, roubo majorado e exploração do jogo do bicho. Apesar da condenação, ele poderá recorrer em liberdade. Outras 11 pessoas também foram sentenciadas no processo.

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