Redação Plenax – Flavia Andrade
Caravanas de todas as regiões do país chegam a Brasília nesta terça-feira (25) para a 2ª Marcha das Mulheres Negras, que traz como tema “Por Reparação e Bem Viver”. A mobilização, que integra a Semana por Reparação e Bem-Viver, tem expectativa de reunir centenas de milhares de pessoas na Esplanada dos Ministérios, em uma das maiores ações políticas e simbólicas protagonizadas por mulheres negras no Brasil.
Organizada pelo Comitê Nacional da Marcha das Mulheres Negras, a manifestação reforça a luta por direitos básicos — como moradia, emprego, segurança e acesso a políticas públicas — e por uma vida digna, livre de violências, racismo e desigualdades históricas.
Dez anos depois da primeira marcha
A primeira edição ocorreu em 2015, quando mais de 100 mil mulheres marcharam em Brasília contra o racismo estrutural, o feminicídio e a violência contra a juventude negra. Agora, dez anos depois, o encontro retorna como um marco político poderoso, em um mês especialmente simbólico: novembro, quando se celebra o Dia da Consciência Negra.
Em 2025, o foco se amplia para a mobilidade social e para a reivindicação de reparação histórica, considerando os impactos da escravidão e suas consequências econômicas e sociais ainda presentes no cotidiano da população negra.
Programação oficial
A programação da marcha começou às 9h, com concentração no Museu da República, próxima à Rodoviária do Plano Piloto. Entre as atividades, estão:
Roda de capoeira e cortejo de berimbaus no ponto de concentração;
Sessão solene no Congresso Nacional, às 9h, em homenagem à Marcha das Mulheres Negras;
Saída da marcha, prevista para as 11h, rumo ao gramado do Congresso Nacional;
Shows, a partir das 16h, com artistas como Larissa Luz, Luanna Hansen, Ebony, Prethaís, Célia Sampaio e Núbia, celebrando a produção cultural negra e o engajamento político feminino.
O jingle oficial já ecoa nas redes e promete embalar a caminhada:
“Mete marcha, negona, rumo ao infinito. Bote a base, solte o grito! Bem-viver é a nossa potência, é a nossa busca, é reparação!”
Articulação internacional
A marcha de 2025 também se destaca pela presença de mulheres negras da diáspora e de países africanos. Delegações do Equador e de outras regiões da América Latina estão em Brasília para integrar discussões, fortalecer alianças e ampliar a luta antirracista em nível global.
Segundo a ativista equatoriana Ines Morales Lastra, que participa representando a Confederação Comarca Afro-equatoriana do Norte de Esmeraldas (Cane), a presença internacional reforça a união de pautas e a importância da memória ancestral:
“Marcharemos para ecoar a firmeza de nossa voz e nossas demandas, porque são nossas as vozes de nossas avós.”
Lélia Gonzalez presente na marcha
A manifestação também celebra a memória e a obra da antropóloga e intelectual Lélia Gonzalez, uma das principais referências do feminismo negro no Brasil. Sua neta, Melina de Lima, participa da marcha após receber recentemente o título de Doutora Honoris Causa concedido pela UnB em homenagem à trajetória da pensadora.
Lélia é autora dos conceitos de “amefricanidade”, que aborda a identidade política dos povos negros das Américas, e “pretuguês”, que reconhece a influência africana na língua portuguesa do Brasil. Sua produção teórica segue fundamental para os movimentos sociais e para o debate racial no país.
Quem são as mulheres negras no Brasil
O Brasil tem 60,6 milhões de meninas e mulheres negras, segundo o Ministério da Igualdade Racial — o maior grupo populacional do país. São 11,3 milhões de mulheres negras autodeclaradas pretas e 49,3 milhões pardas, representando cerca de 28% da população brasileira.
A marcha deste ano reforça a visibilidade política desse grupo e sua centralidade para o avanço da equidade racial e de gênero no Brasil.

