Redação Plenax – Por Flavia Andrade
Cidade nascida sob o símbolo da modernidade, Brasília cultivou a paixão por velocidade desde o seu planejamento e agora se prepara para reabrir o autódromo após 11 anos fechado
A ligação de Brasília com o automobilismo é quase tão antiga quanto a própria capital. Antes mesmo de ser inaugurada, a cidade já despertava o interesse por velocidade, carros e corridas. A primeira menção a uma prova automobilística no Distrito Federal data de 1958, dois anos antes da inauguração oficial.
Segundo o historiador Elias Manoel da Silva, do Arquivo Público do Distrito Federal (ArpDF), a ideia de realizar uma corrida foi apresentada a Juscelino Kubitschek por Joaquim Tavares, então diretor da Novacap. Tavares se impressionou com a largura e o traçado da Avenida do Contorno, atual Estrada Parque Contorno (EPCT), e sugeriu ao presidente que ela fosse usada para uma competição automobilística.

Embora Juscelino tenha aprovado a proposta, o então presidente da Novacap, Israel Pinheiro, não autorizou o evento. A ideia, no entanto, parece ter ficado na mente de JK, um entusiasta do automobilismo que chegou a organizar corridas em Belo Horizonte, quando era prefeito.
Em 1960, durante as comemorações da inauguração de Brasília, JK incluiu o automobilismo na programação oficial da cidade, com a realização do Grande Prêmio Juscelino Kubitschek, em 23 de abril. A prova marcou o encerramento das festividades e se tornou um marco na história esportiva da nova capital.
O trajeto foi desenhado pelo próprio presidente, em um croqui improvisado sobre um envelope. O circuito triangular ligava a Praça dos Três Poderes à Rodoviária do Plano Piloto e ao Eixão Sul. Na estreia, 55 pilotos e 47 veículos disputaram a corrida, vencida pelo paulista Jean L. Lacerda, pilotando uma Ferrari, e premiado pelo lendário argentino Juan Manuel Fangio, pentacampeão mundial de Fórmula 1.
Uma cidade feita para correr
O projeto urbanístico de Lúcio Costa e Oscar Niemeyer, com largas avenidas e curvas abertas, favoreceu a prática do automobilismo. Logo surgiram as corridas de rua, como os 500 km e os 1.000 km de Brasília, eventos que colocaram a cidade entre os principais cenários do automobilismo brasileiro na década de 1960.
“Brasília sempre foi uma cidade convidativa para correr. Era tudo novo, sem sinais ou cruzamentos. As corridas de rua nasceram desse espírito”, relembra o ex-piloto e jornalista João Luiz da Fonseca.
Do sonho à construção do autódromo
O impulso definitivo para a criação de uma pista permanente veio nos anos 1970, durante o milagre econômico e sob o impacto do chamado efeito Fittipaldi — a ascensão do piloto Emerson Fittipaldi, primeiro brasileiro a vencer uma corrida de Fórmula 1.
Em meio ao otimismo nacional, o Autódromo Internacional de Brasília começou a ser construído em 1972, no governo de Hélio Prates, e foi inaugurado em 3 de fevereiro de 1974, durante a presidência de Emílio Garrastazu Médici.
Coincidentemente, o vencedor da corrida inaugural foi Emerson Fittipaldi, consolidando o auge do automobilismo brasileiro. Entre os boxes, estava um jovem mecânico chamado Nelson Piquet, que anos mais tarde se tornaria tricampeão mundial e daria nome ao autódromo.
“Foram 14 anos até a consolidação da pista. JK não chegou a ver, mas o sonho que começou com ele se concretizou em grande estilo, marcando o início da era de ouro do automobilismo brasileiro”, comenta o historiador Victor Hugo Tambelini.
Um circuito moderno e simbólico
O projeto do autódromo foi desenvolvido pelo engenheiro Samuel Dias, com base em pesquisas feitas no Grande Prêmio da Argentina, resultando em um traçado moderno e veloz, com 5.384 metros de extensão.
Agora, após mais de uma década fechado, o Governo do Distrito Federal (GDF) investiu R$ 60 milhões na modernização da estrutura. A reabertura oficial está marcada para o dia 30 deste mês, e o primeiro evento será a penúltima etapa da Stock Car 2025 — um retorno simbólico que acontece, novamente, poucos dias após o GP de Interlagos de Fórmula 1.
“Resgatar o autódromo é preservar parte essencial da história de Brasília”, afirma Adalberto Scigliano, superintendente do Arquivo Público do DF. “É um espaço que marcou gerações e agora volta a receber o público, reafirmando a identidade da cidade com a velocidade e o automobilismo.”
*Com informações da Agência Brasília
