Da Redação
O Brasil precisa de mais cuidadores de idosos?
O envelhecimento populacional deixou de ser uma previsão distante para se tornar uma realidade presente no Brasil. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 45 anos o país deverá ter 75,3 milhões de pessoas com mais de 60 anos, o que representará 37,8% da população. A mudança na estrutura etária exige novos olhares sobre o cuidado, a convivência e as políticas voltadas à terceira geração, cenário que inspirou o tema da redação do Enem 2025 – “Perspectivas acerca do envelhecimento na sociedade brasileira”.
“O aumento da expectativa de vida não é apenas um fenômeno demográfico, é também um marco social e econômico”, pontua Jéssica Ramalho, CEO da Acuidar, a maior rede de cuidadores de idosos da América Latina. De acordo com a especialista, o avanço da chamada “economia prateada” movimenta setores ligados à saúde, bem-estar e serviços especializados. Entre eles, o de cuidados pessoais e domiciliares vive um de seus períodos mais promissores, impulsionado pela busca por qualidade de vida e pela necessidade de acompanhamento constante nessa fase da vida.
Empresas especializadas, como a Acuidar, por exemplo, têm se destacado por aliar presença humana e tecnologia. A rede registrou no primeiro semestre de 2025 um faturamento de R$108,3 milhões, resultado 30% superior ao do ano anterior. Com 318 unidades e cerca de 15 mil cuidadores em atuação, a marca ultrapassou 3,4 milhões de assistências, consolidando-se como símbolo de um modelo de cuidado pautado por sensibilidade, eficiência e inovação.
Segundo a fundadora, o sucesso da empresa reflete a valorização do profissional cuidador, cuja atuação envolve não apenas o apoio físico, mas também o acolhimento emocional e o estímulo cognitivo. A utilização de inteligência artificial na seleção de cuidadores, que cruza perfis técnicos e psicológicos com as necessidades dos idosos, é um exemplo de como a tecnologia pode aprimorar a dimensão humana do cuidado. “A inteligência artificial intensifica nossa capacidade de oferecer um atendimento empático e transformador”, observa Jéssica.
O cuidador na rotina
A relevância desse profissional é confirmada por dados da Associação Brasileira de Gerontologia, segundo os quais 70% dos idosos precisarão de algum tipo de cuidado especial nos próximos anos. A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) mostra que a ocupação de cuidador cresceu 15% nos últimos quatro anos, enquanto o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED) indica um salto de 547% entre 2012 e 2022. Os números evidenciam não apenas a expansão de um mercado, mas a emergência de uma nova função social: a do cuidador como elo entre o envelhecimento com qualidade e a vida autônoma.
A rotina do cuidador vai além da supervisão de medicamentos ou da assistência à mobilidade. Ele atua como agente de presença, promovendo segurança, prevenindo riscos e cultivando vínculos afetivos que reduzem o isolamento — uma das maiores fragilidades da velhice contemporânea. Em casos de doenças crônicas ou neurodegenerativas, como Alzheimer e Parkinson, o acompanhamento especializado torna-se ainda mais essencial para preservar o bem-estar emocional e a qualidade de vida do idoso.
A profissionalização do cuidado também avança. Empresas como a Acuidar têm investido em programas de capacitação contínua, que envolvem técnicas de primeiros socorros, estímulo cognitivo e suporte psicológico. O preparo qualificado, aliado ao uso inteligente de dados, tem elevado o padrão de atendimento e ampliado o reconhecimento social dessa profissão.
“O crescimento do setor de cuidados revela mais do que um movimento econômico – ele representa uma transformação cultural, ou seja, o reconhecimento de que envelhecer com dignidade requer estrutura, empatia e políticas públicas que acompanhem as novas demandas da longevidade”, afirma Jéssica.
O tema proposto pelo Enem 2025, ao tratar do envelhecimento, convida a sociedade a refletir sobre o futuro que já começou. O assunto abre debate a um ponto sensível: o modo como a sociedade encara o envelhecimento. Durante muito tempo, a velhice foi associada à ideia de fragilidade e afastamento da vida produtiva. Hoje, porém, a presença ativa dos idosos redefine o conceito de terceira idade e amplia as possibilidades de participação social, econômica e cultural. O cuidado, nesse contexto, deixa de ser apenas uma resposta à dependência e passa a integrar o projeto de uma vida mais longa, saudável e significativa.
