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Tecnologia acessível revoluciona diagnóstico da apneia do sono

Foto: Divulgação

* Por Renata Bonaldi, CEO e cofundadora da SleepUp

No Brasil, cerca de 30% da população apresenta sintomas de apneia obstrutiva do sono (AOS), segundo o Ministério da Saúde. Trata-se de um distúrbio grave, caracterizado por interrupções recorrentes na respiração durante o sono, que pode levar a complicações como hipertensão, diabetes e até doenças cardiovasculares. Apesar da gravidade, o acesso ao diagnóstico dessa condição ainda é limitado, impedindo que a população consiga dormir sem comprometer o corpo e a mente.

A polissonografia, considerada o padrão-ouro para o diagnóstico, é um exame complexo e inacessível para grande parte dos brasileiros. Realizada em laboratórios especializados, ela exige que o paciente passe duas noites monitorado, o que envolve deslocamentos, custos elevados e dificuldade de agendamento, especialmente no Sistema Único de Saúde (SUS). O método é ainda mais difícil para idosos, trabalhadores noturnos e pacientes que vivem em regiões sem acesso a serviços de saúde especializados.

Em contrapartida, a triagem com o anel oxímetro surge como um avanço significativo no combate à apneia. A tecnologia, que analisa dados como níveis de oxigenação e frequência respiratória durante o sono, representa uma alternativa prática e de baixo custo. O dispositivo é utilizado na própria casa do paciente e gera relatórios automatizados que podem ser laudados por especialistas. Isso não apenas simplifica o diagnóstico inicial, como também democratiza o acesso ao cuidado, possibilitando que mais pessoas iniciem os tratamentos adequados.

Além de afetar o corpo, dormir mal traz diversos prejuízos à mente, comprometendo memória, concentração e qualidade de vida. No entanto, os métodos tradicionais de diagnóstico, embora precisos, estão longe de atender à demanda da população. Na rotina clínica, também é muito comum ouvir pacientes que relatam desconforto com os equipamentos utilizados nos laboratórios ou até mesmo com a presença em tempo real de monitoramento – o que pode prejudicar os resultados do exame e, consequentemente, atrasar o início do processo.

Com isso, a abordagem alternativa trazida pela triagem domiciliar também reduz o estigma associado ao tratamento da apneia. Muitas pessoas ainda veem os distúrbios do sono como algo secundário ou “normal” com o avanço da idade. Tecnologias como o anel oxímetro ajudam a desmistificar essa percepção, oferecendo uma solução prática que se encaixa na rotina do paciente, sem a necessidade de grandes esforços.

Outro ponto crítico é o impacto da apneia no desempenho profissional e na segurança de trabalhadores. Profissões como motoristas de caminhão, profissionais da saúde e seguranças noturnos são diretamente afetadas pela má qualidade do sono, aumentando os riscos de acidentes e da redução da produtividade. Nesses casos, a triagem, além de atuar como uma ferramenta de saúde individual, serve como estratégia para reduzir custos operacionais e promover bem-estar em larga escala.

O potencial das tecnologias voltadas para a assistência médica não deve ser subestimado, pois a criação de diagnósticos mais acessíveis envolve uma questão de saúde pública. Ampliar o acesso significa dar voz a milhões de brasileiros que sofrem de forma silenciosa, permitindo que eles eliminem doenças preveníveis e condições debilitantes. Dormir bem não é um luxo, mas um direito fundamental.

* Formada em Engenharia, com mestrado em Têxtil e Saúde (Itália), PhD em têxteis eletrônicos e vestíveis para assistência médica (Reino Unido) e MBA em Gestão de Inovação e Empreendedorismo pela Universidade de Manchester, Renata Bonaldi tem mais de 18 anos de experiência com o desenvolvimento de produtos e tecnologias voltadas para a saúde e o bem-estar. Além de coordenar projetos em empresas como Solvay e BASF, a engenheira é CEO e cofundadora da SleepUp, primeira plataforma de terapia digital da saúde do sono aprovada pela Anvisa.

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