
Da Redação
A depender do estágio do tumor e das condições clínicas do paciente, a radioterapia pode ser utilizada como forma curativa (especialmente quando o tumor está restrito ao esôfago ou espalhou para os linfonodos), neoadjuvante ou paliativa. Estudo mostra que resultado é otimizado quando a radiação é associada com a quimioterapia. A doença é quase três vezes mais comum entre os homens
De acordo com o Instituto Nacional do Câncer (INCA), o Brasil deve registrar 10.990 novos casos de câncer de esôfago em 2025, sendo o sexto câncer mais frequente entre os homens. A doença é 2,8 vezes mais comum no sexo masculino. O mês de abril é dedicado à conscientização sobre essa neoplasia, que apresenta dois subtipos mais comuns: o carcinoma escamoso e o adenocarcinoma.
O tratamento do câncer de esôfago depende do estágio da doença e das condições clínicas do paciente. A radioterapia pode ter uma finalidade curativa para tumores malignos do esôfago em estágios iniciais e localmente avançados. “Em alguns casos, a radioterapia pode ser indicada como tratamento isolado e, em outros, pode ser combinada com quimioterapia e cirurgia”, explica o radio-oncologista Erick Rauber, diretor de Comunicação da Sociedade Brasileira de Radioterapia (SBRT).
Entre as abordagens de radioterapia em câncer de esôfago, ela pode ser neoadjuvante, com a finalidade de reduzir o tamanho do tumor antes da cirurgia, aumentando as chances de ressecção completa e ainda pode ser indicada a radioterapia paliativa em casos de doença no estágio 4 (quando há metástase), para aliviar sintomas severos de dificuldade para engolir e dor, melhorando assim a qualidade de vida do paciente.
Há também situações em que a radioquimioterapia (combinação de radioterapia e quimioterapia) pode ser o tratamento principal, sobretudo quando a cirurgia não é viável devido à localização do tumor ou ao avanço da doença. “Dentre os tipos de radioterapia, a de feixe externo é a mais utilizada, direcionando energia de alta intensidade para destruir as células cancerígenas. Também existe a braquiterapia, na qual a radiação é aplicada internamente, próxima ao tumor”, relata Rauber.
Indicações da Radioterapia
A radioterapia pode ser utilizada em diferentes cenários do tratamento do câncer de esôfago:
- Radical: Combinada com quimioterapia, em pacientes que não têm condições clínicas para cirurgia. Nesses casos, o objetivo é controlar o tumor e oferecer chance de cura sem intervenção cirúrgica. Ou ainda, quando o tumor desaparece após essa etapa, eliminando a necessidade da cirurgia,
- Neoadjuvante: para reduzir o tamanho do tumor antes da cirurgia, aumentando as chances de ressecção completa.
- Paliativa: no estágio 4, para aliviar sintomas como dificuldade para engolir e dor, melhorando a qualidade de vida do paciente.
Possibilidade de tratamento sem cirurgia
Um estudo recente publicado na Lancet Oncology 2025 apresentou dados de que pacientes com câncer de esôfago localmente avançado podem ser acompanhados sem cirurgia quando apresentam resposta clínica completa após quimiorradioterapia, ou seja, tumor sumiu após o tratamento. O estudo mostrou ainda que a sobrevida global dos pacientes sob monitoramento não foi inferior àqueles submetidos à cirurgia.
A pesquisa analisou 309 pacientes, dos quais 198 foram acompanhados sem cirurgia e 111 passaram por esofagectomia após a quimiorradioterapia. Após 2 anos de acompanhamento, os resultados mostraram que 74% dos pacientes no grupo que fez quimiorradioterapia estavam vivos, contra 71% no grupo submetido à cirurgia, evidenciando não inferioridade na sobrevida global. “Os dados deste estudo são fundamentais para trazer discussões clínicas e pode ainda ser uma possibilidade. No entanto, a decisão entre quimiorradioterapia e cirurgia deve ser feita com cautela, considerando a individualidade de cada caso.”, explica Erick
Os tipos, suas causas, sintomas e diagnóstico
O carcinoma de células escamosas ocorre com mais frequência na parte superior e no meio do esôfago e está fortemente relacionado ao tabagismo, ao consumo excessivo de álcool e à alimentação industrializada, especialmente com excesso de embutidos. Já o adenocarcinoma acomete predominantemente o terço inferior do esôfago e tem grande relação com a obesidade. Os sintomas do câncer de esôfago costumam ser inespecíficos e podem ser confundidos com outras condições gastrointestinais. Geralmente, são percebidos apenas em estágios avançados da doença. A dificuldade para engolir (disfagia) é um dos primeiros sinais, iniciando-se com alimentos sólidos e progredindo para líquidos. Outros sintomas comuns incluem dor, pressão ou queimação no peito, tosse persistente ou rouquidão, perda de peso inexplicável e agravamento da indigestão ou azia. “Devido à progressão silenciosa da doença, é fundamental estar atento a esses sinais e procurar avaliação médica ao menor indício de sintomas persistentes”, finaliza Rauber.