Da Redação
Ferramentas digitais apoiam profissionais da psicologia em tarefas como triagem e elaboração de relatórios, sem substituir o atendimento clínico
Com 68% dos brasileiros relatando sentimentos frequentes de ansiedade, e 55,8% afirmando nunca ter buscado ajuda profissional, cresce a atenção para iniciativas que aliem cuidado psicológico e acessibilidade. Os dados fazem parte do estudo Panorama da Saúde Mental no Brasil (2024), produzido pelo Instituto Cactus em parceria com a AtlasIntel, e reacendem o debate sobre a relação entre saúde mental e vida profissional — especialmente entre adolescentes e adultos em momentos decisivos de carreira.
É nesse contexto que tecnologias desenvolvidas para apoiar o trabalho de psicólogos começam a ganhar espaço. Uma delas é a plataforma iaorienta.com.br, lançada durante o evento da Associação Brasileira de Orientação Profissional e de Carreira (ABRAOPC), em Curitiba.
A solução utiliza inteligência artificial para automatizar partes do processo de elaboração de relatórios de orientação profissional, ajudando os profissionais da psicologia na organização do cuidado, sem interferir na autonomia clínica.
“A IA pode ajudar a sistematizar dados e indicar padrões com base em protocolos reconhecidos. Mas tudo isso precisa estar subordinado à supervisão clínica. A tecnologia é apoio, nunca substituição”, afirma Bruna Mulinari, fundadora da Dataplai criadora da solução.
A criação da plataforma se apoia em tendências globais observadas no uso de sistemas como o ChatGPT. Segundo o estudo “How People Use ChatGPT”, da OpenAI, publicado no último dia 15, cerca de 27% das interações com o modelo envolvem dúvidas e tarefas relacionadas ao trabalho — incluindo escrita de currículos, preparação para entrevistas e decisões de transição profissional. A categoria mais comum de uso é a chamada “orientação prática”, que engloba justamente esse tipo de demanda.
“A plataforma foi desenvolvida para apoiar psicólogos na elaboração de relatórios de orientação profissional. O atendimento continua sendo feito pelo profissional — com adolescentes que buscam ajuda para escolher um curso ou carreira, e com adultos que já têm formação, mas estão avaliando se mudam de área, função ou empresa. A ferramenta compila os dados e técnicas implementadas em sessão com base em protocolos reconhecidos, agilizando o processo de elaborar o relatório de entrega ao paciente, sem interferir na autonomia clínica”, explica Bruna Mulinari.
Além da ansiedade, outros indicadores revelam a complexidade do cenário no cuidado da saúde mental. O Índice Contínuo de Avaliação da Saúde Mental (ICASM), também do Instituto Cactus, aponta baixa vitalidade, falta de foco e redução na autoconfiança como traços predominantes na população.
“Eu considero a ferramenta extremamente útil e facilitadora para o dia a dia de quem atua com orientação profissional e de carreira”, avalia Rafaela de Faria, psicóloga que orientou a construção da plataforma desde a fase inicial, contribuindo para garantir alinhamento com a prática clínica e com as necessidades reais dos profissionais.
Segundo ela, a plataforma reduz o tempo dedicado à elaboração dos relatórios e automatiza partes do processo, como a organização de parágrafos e trechos de instrumentos já consolidados. “Com isso, conseguimos focar no que realmente importa: o raciocínio clínico e a análise crítica dos encaminhamentos”, complementa Rafaela.
O estudo publicado no RSD Journal, em 24 de agosto de 2024, mostra que 29% dos servidores públicos federais apresentam ansiedade moderada a severa e 37% têm sintomas de depressão.

 
								





