Posted in

População jovem tem maior risco de suicídio no Brasil, aponta Fiocruz; índices são ainda mais altos entre indígenas

Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil

Redação Plenax – Flavia Andrade

A juventude brasileira é o grupo mais exposto ao risco de suicídio no país. É o que revela o 2º Informe Epidemiológico sobre a Situação de Saúde da Juventude Brasileira, produzido pela Fiocruz, indicando uma taxa de 31,2 suicídios por 100 mil habitantes entre jovens — acima da média nacional de 24,7.

Entre os homens jovens, o índice sobe para 36,8. Mas o quadro mais grave está entre os povos indígenas, que apresentam as maiores taxas do país.

Juventude indígena enfrenta cenário crítico

A pesquisa classifica o suicídio como um “problema de saúde sobretudo entre a juventude indígena”.

Os dados mostram que:

A taxa geral de suicídios entre indígenas é de 62,7 por 100 mil;

No grupo de homens indígenas entre 20 e 24 anos, a taxa dispara para 107,9 por 100 mil;

Entre mulheres indígenas de 15 a 19 anos, o índice é de 46,2 por 100 mil, também acima dos demais grupos populacionais.

Segundo a pesquisadora Luciane Ferrareto, questões culturais, preconceito e dificuldade de acesso ao atendimento de saúde explicam parte desse cenário. “Há acesso à informação, mas ainda existe forte discriminação e demora no atendimento”, afirma.

Homens jovens lideram internações por saúde mental

O levantamento também avaliou internações e atendimentos entre jovens de 15 a 29 anos nos serviços do SUS entre 2022 e 2024.

Os números mostram:

61,3% das internações psiquiátricas são de homens jovens;

A taxa de internação desse público é de 708,4 por 100 mil habitantes, 57% maior que a das mulheres;

Menos da metade continua o tratamento após a alta hospitalar.

O abuso de substâncias é a principal causa de internação masculina (38,4%), com predominância do consumo de múltiplas drogas. Entre mulheres jovens, a depressão é o fator mais comum.

Para Ferrareto, a pressão por um modelo de masculinidade que desencoraja o cuidado emocional e a dificuldade de acesso a emprego e renda são fatores que favorecem o abuso de álcool e outras drogas. “A instabilidade econômica, o peso de sustentar a família e a sensação de fracasso empurram muitos para o uso de substâncias”, explica.

Mulheres jovens enfrentam vulnerabilidades específicas

Entre as mulheres, a violência física e sexual na adolescência aparece como uma das principais causas de adoecimento mental.

A pesquisadora destaca ainda:

Abandono de estudos e trabalho para assumir cuidados domésticos;

Relações abusivas;

Precarização do trabalho e assédio.

Jovens procuram menos os serviços de saúde

Apesar de serem mais afetados por problemas de saúde mental, violências e acidentes, os jovens são também os que menos buscam atendimento. Apenas 11,3% dos atendimentos de jovens na APS são voltados à saúde mental — menos da metade da proporção observada na população geral.

As internações, no entanto, são mais frequentes:

579,5 por 100 mil habitantes entre jovens;

Entre 20 e 29 anos, ultrapassam 700 por 100 mil;

Acima de 30 anos, a taxa cai para 599,4.

Para o coordenador da Agenda Jovem Fiocruz, André Sobrinho, isso reflete um modelo social que cobra resiliência extrema da juventude. “Muitas vezes, espera-se que o jovem aguente tudo simplesmente por ser jovem”, critica.

Onde buscar ajuda

Pessoas com pensamentos suicidas ou sintomas de sofrimento intenso devem buscar apoio imediato. O Ministério da Saúde reforça a importância de conversar com alguém de confiança e procurar atendimento.

Serviços disponíveis:

Centros de Atenção Psicossocial (Caps)

Unidades Básicas de Saúde

UPAs, Samu 192, Prontos-Socorros e Hospitais

Centro de Valorização da Vida (CVV): 188 – atendimento 24h, gratuito e sigiloso

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

error

Enjoy this blog? Please spread the word :)