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Pesquisa científica aponta queda de mais de 63% da dengue em áreas com Wolbachia em Campo Grande

Foto: Kamilla Ratier

Redação Plenax – Flavia Andrade

Um estudo científico de grande relevância associou a presença da bactéria Wolbachia à expressiva redução dos casos de dengue em Campo Grande. A pesquisa identificou queda de 63,2% na incidência da doença, em 2024, nas regiões da Capital onde a tecnologia alcançou níveis considerados estáveis.

O artigo, que será publicado em fevereiro de 2026 na revista internacional The Lancet Regional Health – Americas, é resultado do doutorado da pesquisadora Fabiani de Morais Batista, da Faculdade de Medicina da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul), em parceria com instituições nacionais e internacionais. A Secretaria de Estado de Saúde (SES) atuou como parceira institucional na implantação da estratégia.

Segundo o estudo, após a liberação em massa de mosquitos Aedes aegypti infectados com Wolbachia entre 2020 e 2023, a prevalência média da bactéria na cidade chegou a 86,4%. Ao todo, 89% das áreas monitoradas atingiram ao menos 60% de presença da bactéria, índice considerado ideal para a estabilidade da estratégia.

“Essa pesquisa traduz, em evidência científica, uma experiência construída com cooperação, planejamento e compromisso com a saúde pública. Demonstra o impacto concreto da Wolbachia na redução da dengue em Campo Grande e reforça o papel da ciência no fortalecimento do SUS”, destacou a secretária adjunta de Estado de Saúde, Crhistinne Maymone, que integra o estudo como coautora.

Estratégia inédita e resultados consistentes

O trabalho reúne pesquisadores da Fiocruz, das universidades de Yale, Stanford, Johns Hopkins, USP e Monash University (Austrália), além do World Mosquito Program (WMP) e órgãos de saúde municipal e estadual. Trata-se da primeira avaliação científica programática da estratégia com Wolbachia no Brasil, financiada e coordenada pelo Ministério da Saúde.

Durante três anos, mais de 100 milhões de mosquitos foram liberados em seis regiões urbanas da Capital, com monitoramento feito por 1.677 ovitrampas. A técnica consiste em introduzir a bactéria Wolbachia no mosquito transmissor, o que impede a multiplicação dos vírus da dengue e reduz sua capacidade de transmissão.

A análise da série histórica de casos entre 2008 e 2024 mostra que, antes da intervenção, os registros anuais frequentemente ultrapassavam 4,7 mil casos. Após a implantação da tecnologia, Campo Grande deixou de registrar picos com a mesma intensidade observada anteriormente.

Integração ao SUS e ações de vigilância

A execução científica local e o monitoramento epidemiológico ficaram sob coordenação da Fiocruz Mato Grosso do Sul, enquanto a Secretaria Municipal de Saúde respondeu pela logística territorial. A SES contribuiu com a cessão de espaço para instalação da biofábrica no Lacen/MS, apoio com veículos e disponibilização de técnicos para as ações de campo.

O estudo destaca ainda que a Wolbachia não utiliza inseticidas, se mantém de forma autônoma ao longo do tempo e atua como complemento às ações tradicionais de combate ao Aedes aegypti, como eliminação de criadouros e vacinação, reforçando o enfrentamento às arboviroses de forma sustentável.

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