Redação Plenax – Flavia Andrade
Um novo estudo publicado na Nature Communications trouxe uma descoberta importante para a área da neurologia: alterações no olfato podem surgir antes mesmo dos primeiros sinais de perda de memória em pessoas que desenvolverão Alzheimer. A pesquisa, conduzida por cientistas da Universidade Luís Maximiliano, em Munique, analisou tecidos cerebrais humanos e modelos animais, revelando que os circuitos responsáveis pela interpretação de cheiros são impactados nas fases iniciais do processo neurodegenerativo.
O tema ganhou maior atenção durante a pandemia de Covid-19, quando a perda de olfato se tornou um sintoma frequente. No entanto, a otorrinolaringologista Camila Marinho, do HOPE – Hospital de Olhos de Pernambuco, reforça que o olfato pode ser afetado por inúmeros fatores. “Infecções comuns, sinusite crônica, rinite, pólipos, traumas na cabeça, envelhecimento e até contato prolongado com produtos químicos podem comprometer o olfato. E doenças neurológicas, como Alzheimer e Parkinson, também podem ter a perda olfativa como sinal inicial”, explica.
Quando o sintoma é um sinal de alerta
Segundo a especialista, há situações que exigem investigação imediata. A recomendação é procurar atendimento médico quando a perda de olfato surge de forma súbita, vem acompanhada de dor de cabeça intensa, alteração visuoespacial, desequilíbrio ou ocorre após trauma craniano. Outro ponto de atenção é quando o sintoma persiste por semanas ou aparece sem estar associado a nariz entupido.
Distorções olfativas — como sentir cheiros inexistentes ou perceber odores comuns como queimado ou podre — também merecem atenção. Nessas situações, aumenta a suspeita de origem neurológica. “Quando o problema não está no nariz, mas nas vias cerebrais do olfato, o paciente também pode apresentar tremores, lapsos de memória, dificuldade de raciocínio ou mudanças comportamentais”, explica Marinho.
Além do Alzheimer, o declínio no olfato é reconhecido como marcador precoce de doenças como Parkinson, depressão, esclerose múltipla e até tumores cerebrais.
Novos testes e caminhos para diagnóstico
A avaliação da função olfativa pode ser realizada por testes específicos. O mais comum é o SmellTest, versão brasileira adaptada do teste de Connecticut. A médica destaca ainda o Multiscent, tecnologia desenvolvida no Brasil que utiliza estímulos olfativos aplicados por um iPad e registra as respostas de forma interativa.
Tratamento depende da causa
Em casos inflamatórios, como sinusite ou rinite, o tratamento costuma apresentar boa resposta. Obstruções físicas podem requerer cirurgia, enquanto lesões nos nervos decorrentes de Covid-19 ou traumas tendem a melhorar, embora de forma mais lenta. Uma das abordagens mais eficazes é o treinamento olfativo — uma espécie de fisioterapia do olfato — que consiste na exposição diária a fragrâncias específicas por vários meses.
A reversão da perda olfativa, no entanto, depende da origem do problema. Em doenças degenerativas ou traumas severos, o dano pode ser permanente.
Para a população, a principal mensagem é não ignorar o sintoma. “O olfato vai muito além do prazer dos aromas: ele protege, alerta e conecta memórias”, afirma Marinho. “Qualquer mudança persistente deve ser avaliada por um especialista.”

