Da Redação
Entenda as diferenças entre escolas bilíngues e internacionais, os benefícios do aprendizado em dois idiomas e os cuidados na hora da matrícula
O ensino bilíngue tem crescido e consolidado como uma das principais tendências da educação contemporânea. De acordo com a Associação Brasileira do Ensino Bilíngue (ABEBI), o país já conta com mais de 1,2 mil escolas bilíngues, número que cresce a cada ano impulsionado pela busca de famílias que desejam oferecer aos filhos uma formação completa e globalizada, capaz de unir excelência acadêmica e fluência em mais de um idioma.
Aprender uma segunda língua desde cedo traz benefícios que vão além da comunicação: amplia o desenvolvimento cognitivo, estimula a criatividade e fortalece habilidades socioemocionais como empatia e tolerância. Em um mundo cada vez mais conectado, ser bilíngue significa ter mais acesso a oportunidades acadêmicas, culturais e profissionais, dentro e fora do país.
Para ajudar famílias que pretendem matricular os filhos em uma escola bilíngue em 2026, educadores explicam a seguir pontos fundamentais que devem ser considerados na hora da escolha.
Entenda se a escola é mesmo bilíngue
Nem toda escola que se diz bilíngue é, de fato bilíngue. Existem as escolas bilíngues, as internacionais, e aquelas que oferecem o ensino de idiomas no contraturno escolar. Embora esses modelos possam parecer semelhantes, existem diferenças importantes.
Escolas bilíngues: seguem o currículo brasileiro (com aulas iniciando por volta de fevereiro, férias no meio do ano, volta às aulas por volta de agosto e férias de fim de ano), ministrando as disciplinas e conteúdos definidos pelo Ministério da Educação e pela Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Tanto o português como o segundo idioma, geralmente o inglês, são usados como língua de instrução, ou seja, os alunos aprendem as Ciências, História e Matemática, por exemplo, nos dois idiomas, concomitantemente – geralmente em uma proporção de 50% de aulas no idioma materno, e outros 50% no segundo idioma. Trata-se de “ter aula no idioma”, não “ter aula do idioma”.
Os professores costumam ser em sua maioria brasileiros com excelente proficiência linguística em outros idiomas, para garantir o ensino nas duas línguas e a transmissão da cultura e identidade nacional aos estudantes. Há escolas que oferecem o Inglês (como segundo idioma) e ainda um terceiro idioma, que costuma ser o Espanhol.
Escolas internacionais: adotam currículos estrangeiros, como o americano ou britânico. O calendário americano, por exemplo, tem início em agosto ou setembro, tem pausas de férias no verão e inverno no hemisfério norte, e encerra em junho. Elas preparam os alunos para a vida acadêmica fora do Brasil, oferecendo certificações aceitas em universidades estrangeiras e disciplinas ministradas integralmente em outro idioma, geralmente o inglês.
Essas instituições costumam receber famílias expatriadas ou brasileiras que planejam viver no exterior, e muitas contam com corpo docente formado quase inteiramente por professores estrangeiros.
IB Diploma: tanto as escolas bilíngues como as internacionais podem oferecer o IB Diploma Programme (DP), uma espécie de currículo válido internacionalmente, que abre portas para os alunos no ensino superior no exterior. No Brasil, poucas escolas são autorizadas a oferecer o IB. As aulas acontecem concomitantemente ao currículo regular oferecido pela escola. Para conquistar o diploma do IB, o estudante cursa disciplinas e realiza projetos que envolvem pesquisa, reflexão e engajamento social.
Cognia: algumas escolas bilíngues oferecem certificações de acreditação internacional, como é o Cognia (uma organização internacional que avalia escolas em todo o mundo com critérios acadêmicos e de desempenho, atestando que o aluno estudou um currículo rigoroso, recebeu ensino de qualidade e teve resultados de aprendizagem satisfatórios), proporcionando ao aluno, ao final do Ensino Médio/High School, receber um “dual diploma” aceito em universidades dos Estados Unidos, incluindo as da Ivy League (Brown, Columbia, Cornell, Dartmouth, Harvard, Universidade da Pensilvânia, Princeton e Universidade Yale) e da Europa, além de ser um diferencial no mercado de trabalho.
Escolas com inglês no contraturno: algumas instituições de ensino fazem um jogo de palavras que pode confundir as famílias e dar a entender que são escolas bilíngues, quando, na verdade, não são. As escolas bilíngues devem atender a alguns critérios para serem consideradas verdadeiramente bilíngues. O principal critério é o uso do segundo idioma como meio de instrução; desta forma, os conteúdos são ensinados em ambas as línguas. Além disso, a escola bilíngue deve oferecer um tempo adequado de exposição à língua e alto nível de proficiência dos docentes. Não devem ser consideradas como bilíngues de verdade as escolas que oferecem atividades de inglês no contraturno, que funcionam como cursos de idiomas no ambiente escolar, sem integrar o idioma ao currículo regular ou usá-lo como instrumento de instrução de conteúdos.
“Entender essas diferenças é essencial para fazer uma escolha coerente com o perfil e as expectativas da família. Cada modelo tem objetivos distintos e resultados diferentes em termos de imersão linguística, carga horária e certificações”, explica Jacqueline de Freitas Cappellano, coordenadora pedagógica da Escola Internacional de Alphaville.
Quanto mais cedo aprender o 2º idioma, melhor
O contato precoce com outro idioma, ainda no ensino infantil, favorece a naturalidade do aprendizado. Pesquisas mostram que o bilinguismo estimula o cérebro, melhora a concentração e o raciocínio lógico, além de fortalecer a memória e o pensamento crítico. Isso acontece porque, na infância, o cérebro apresenta mais plasticidade e é capaz de absorver novos idiomas com rapidez e espontaneidade. “Aprender por meio de duas línguas, com processo contínuo e prazeroso, amplia a forma como o estudante vê o mundo, conecta saberes e estimula a autonomia”, diz Audrey Taguti, diretora geral e pedagógica do Brazilian International School – BIS.
Mas nunca é tarde para ingressar em uma escola bilíngue. “Mesmo quando o aluno entra em uma escola bilíngue no Ensino Fundamental Anos Iniciais ou depois, o processo acontece de forma espontânea, pois ele aprende o novo idioma em situações reais de comunicação, dentro de contextos significativos. Em uma aula de história, por exemplo, o aluno vai se deparar com uma aula em português sobre determinado conteúdo, mas o mesmo assunto também pode ser abordado em outra aula, com outro enfoque, em inglês. O aprendizado é complementar, nas duas línguas”, afirma Audrey.
O que levar em conta na hora da escolha?
Ao escolher uma escola bilíngue, é fundamental avaliar não apenas a proposta pedagógica, mas também a qualidade da experiência que a criança viverá no dia a dia, e isso inclui até a localização física da instituição de ensino, que impacta o deslocamento e a rotina da família. Afinal, a escola será o espaço onde o aluno passará boa parte da infância e da adolescência, aprendendo, convivendo e desenvolvendo valores que levará para a vida.
Vale ainda observar a formação e qualificação dos professores. Também é importante verificar se a instituição possui certificações reconhecidas internacionalmente e se oferece infraestrutura de qualidade, com laboratório, biblioteca, espaço maker e ambientes favoreçam a imersão linguística e estimulem a curiosidade, a autonomia e a criatividade.
“Escolher uma escola é escolher um espaço de vida para o seu filho. A criança passa muitas horas do dia nesse ambiente, e é ali que ela aprende a se relacionar, a lidar com desafios e a desenvolver seu potencial. Por isso, é importante que a escola ofereça um espaço seguro, acolhedor e inspirador”, afirma Claudia Andreazza, coordenadora de Inglês do colégio Progresso Bilíngue Itu-SP.
Avalie se a escola se alinha aos valores e cultura da família
Escolher uma escola bilíngue vai muito além de analisar currículo e carga horária: é fundamental que a proposta pedagógica esteja em sintonia com o perfil da criança e os valores da família. Cada instituição tem uma forma própria de trabalhar o bilinguismo, seja no tempo de exposição ao segundo idioma, nas metodologias de ensino, nas práticas de avaliação ou no desenvolvimento de habilidades socioemocionais.
Por isso, visitar a escola, conversar com professores e outros pais, e observar o ambiente são passos importantes para entender como a comunidade escolar se relaciona, comunica e acolhe os alunos e suas famílias.
“Mais do que um idioma, o bilinguismo é uma forma de enxergar o mundo. Por isso, a escolha da escola precisa levar em conta se a cultura institucional, o ritmo e a comunicação com as famílias estão alinhados aos princípios e às expectativas de cada um”, explica Fatima Lopes, diretora geral da Escola Bilíngue Aubrick.
