Redação Plenax – Flavia Andrade
Enquanto a agricultura incorporou as sementes híbridas como pilar da produtividade moderna, a pecuária brasileira ainda avança de forma lenta na adoção dessa tecnologia nas pastagens — um descompasso que custa caro ao setor. Produtores de carne e leite deixam de ganhar bilhões de reais ao manter áreas extensas com cultivares convencionais, mesmo diante de evidências de que híbridos forrageiros elevam o desempenho animal, antecipam o abate e aumentam a eficiência por hectare.
Culturas como o milho já atingiram adoção praticamente total de híbridos em países como os Estados Unidos, e o arroz segue caminho semelhante em grandes produtores asiáticos. Na pecuária, porém, a incorporação de híbridos de braquiária ainda é tímida e carece de dados consolidados de uso, ficando muito distante do patamar observado na agricultura.
“Temos acompanhado resultados expressivos de produtividade em clientes que adotaram a braquiária híbrida Mavuno. Ainda assim, a adoção dessa tecnologia é baixa, justamente em um momento em que a pecuária precisa produzir mais por área e reduzir impactos ambientais”, avalia Alex Wolf, CEO da Wolf Sementes, empresa desenvolvedora do híbrido.
Agricultura na dianteira
O mercado global de sementes híbridas movimentou cerca de US$ 92,8 bilhões em 2024 e deve ultrapassar US$ 190 bilhões até 2033, segundo a Global Growth Insights. Nos Estados Unidos, o milho híbrido ocupa 100% da área cultivada desde meados do século passado. Já a China utiliza híbridos em mais de 57% de sua área de arroz, responsável por aproximadamente 75% da produção nacional.
Esses materiais são adotados por entregarem maior produtividade, estabilidade frente ao estresse climático, melhor sanidade e previsibilidade de retorno econômico — fatores que impulsionaram a modernização agrícola em escala global.
Descompasso na pecuária
Na pecuária, a evolução segue outro ritmo. Apesar de híbridos de Urochloa apresentarem ganhos consistentes em produção de matéria seca, valor nutritivo, vigor de rebrota e tolerância à seca, a formação de pastagens no Brasil ainda é dominada por cultivares antigas.
Estudos indicam que milhões de hectares permanecem em algum nível de degradação, resultado da baixa renovação de pastos e da escolha por materiais menos produtivos, mesmo diante de alternativas tecnicamente superiores. Para a Wolf Sementes, o cenário revela uma oportunidade clara de intensificação sustentável, com impactos diretos no ganho médio diário dos animais, na taxa de lotação e na redução do ciclo de produção.
Resultados no campo
Um exemplo prático desse potencial vem da Fazenda Rancho Alegre, em Auriflama (SP), que implantou a braquiária híbrida Mavuno em áreas de recria e terminação. Com manejo adequado e adubação compatível com o potencial genético do híbrido, os resultados superaram a média histórica da propriedade.
Na fase de terminação, os animais alcançaram ganho diário de 1,25 kg — cerca de 25% superior ao registrado anteriormente. Na recria, o ganho médio diário chegou a 0,76 kg, encurtando o ciclo produtivo e antecipando o abate em aproximadamente três meses. O híbrido também proporcionou um pasto mais denso e uniforme, permitindo elevar a taxa de lotação sem perda de desempenho.
Próxima fronteira da competitividade
Com a agricultura avançando rapidamente no uso de híbridos e no aprimoramento genético adaptado ao clima, a expectativa é que a pecuária siga o mesmo caminho. “Estamos atuando junto a revendas, distribuidores, centros de pesquisa e universidades para mostrar, com base técnica e científica, que híbridos forrageiros são fundamentais para produzir mais arrobas por hectare, recuperar áreas degradadas e atender às exigências de eficiência e sustentabilidade do mercado”, afirma Alex Wolf.
Segundo o executivo, a adoção dessas cultivares representa mais do que uma inovação pontual. “É a próxima fronteira de competitividade da pecuária tropical”, conclui.

