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Organizações e profissionais da saúde fazem ato inédito nas ruas de Belém durante a COP30

Foto: Diego Formiga/Instituto Ar

Da Redação

Cerca de 3 mil pessoas marcharam para denunciar os impactos da crise climática sobre a saúde

Médicos, enfermeiros, estudantes, lideranças indígenas e representantes de movimentos sociais ocuparam as ruas de Belém (PA), nesta terça-feira (11), para denunciar o que chamam de uma das dimensões mais negligenciadas da emergência climática: a saúde pública. A Marcha Global Saúde e Clima, que reuniu cerca de 3 mil pessoas em um percurso de 1,5 km entre a Embaixada dos Povos e a Zona Azul da COP30, foi realizada pelo Movimento Médicos pelo Clima, idealizado pelo Instituto Ar, em parceria com a Rede de Trabalho Amazônico (GTA), movimento que atua na defesa dos povos da floresta e da diversidade amazônica. 

A iniciativa foi apoiada por Fiocruz, Conselho Regional de Enfermagem do Pará (Coren-PA), 350.org Brasil, Manas da Periferia, Coletivo Pororoka, Movimento Saúde Sustentável, Médicos Sem Fronteiras, Red Clima Salud, Juntos!, iniciativa Medicamentos para Doenças Negligenciadas (DNDi), Grupo de Trabalho de Saúde Planetária da SBMFC, Hospitais Saudáveis, International Pesticide Standard Alliance (IPSA), Centro Internacional de Água e Transdisciplinaridade (CIRAT), Instituto Paraense de Desenvolvimento (IPAD) e Global Climate and Health Alliance, com apoio da RD Saúde.

“A mudança do clima é hoje uma crise de saúde. Os efeitos são enormes: adoecimentos, mortes e um custo imenso para os sistemas de saúde. O Brasil precisa sair da inércia e se preparar. Falta planejamento, faltam protocolos, faltam planos emergenciais para enfrentar desastres como enchentes, secas e queimadas. A saúde precisa estar no centro dessa resposta, porque os impactos atingem diretamente a vida das pessoas”, afirma a médica patologista especialista em Gestão de Sustentabilidade Evangelina Araújo, fundadora do Instituto Ar. A marcha aconteceu dois dias antes do “Dia da Saúde” na COP30, quando os debates estarão centrados nesta pauta.

A mobilização teve a participação de autoridades como Mario Moreira, presidente da Fiocruz, Mario Massuda, secretário-executivo do Ministério da Saúde, e Weibe Tapeba, secretário de Saúde Indígena do mesmo ministério. “Saúde e clima são temas intrínsecos. Quando falamos de crise climática, estamos falando de nutrição, de doenças agravadas pelo clima, de destruição ambiental e tudo isso impacta diretamente a saúde das pessoas. Não é possível separar uma coisa da outra. Precisamos tratar clima e saúde como o que realmente são: dimensões inseparáveis da mesma agenda”, defendeu o secretário adjunto de Gestão Administrativa da Secretaria de Estado de Saúde Pública do Pará, Edney Pereira.

Com carro de som, faixas e falas de lideranças, o ato percorreu as ruas até a Zona Azul da COP30 com forte presença de movimentos indígenas, organizações da sociedade civil, profissionais da saúde e juventudes. As mensagens nos cartazes refletiam a mensagem da iniciativa: “Não há saúde sem justiça ambiental”, “A crise climática é uma crise de saúde”. Durante o trajeto, representantes se revezaram no microfone, em cima do carro de som, para falar sobre os impactos da crise climática nos territórios e na saúde das populações.

“Essa marcha representa a população que sofre com os transtornos climáticos. Médicos e médicas precisam estar próximos de quem enfrenta essa realidade. Estar aqui é estar ao lado de quem tem sofrido todos os danos dos desastres socioambientais”, defendeu a médica Isadora Viana Fernandes, do Movimento Médicos pelo Clima. 

Impactos já são sofridos pela população

A crise climática já compromete a saúde de milhões de brasileiros. A elevação das temperaturas intensifica casos de estresse térmico e doenças cardiovasculares, enquanto a poluição do ar está diretamente relacionada ao agravamento de doenças respiratórias como asma e bronquite. Eventos extremos, como enchentes e secas prolongadas, afetam o abastecimento de água, a produção de alimentos e aumentam a incidência de doenças transmitidas por vetores, como dengue, zika e malária. Além disso, o impacto psicológico desses eventos — como perdas materiais, deslocamentos forçados e medo do futuro — tem contribuído para o aumento de casos de ansiedade, depressão e sofrimento mental, especialmente entre populações vulneráveis.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), entre 2030 e 2050 a crise climática será responsável por 250 mil mortes adicionais por ano, em decorrência de desnutrição, malária, diarreia e estresse térmico. A estimativa é que os custos diretos com saúde decorrentes das mudanças climáticas alcancem de 2 a 4 bilhões de dólares por ano até 2030. Ainda assim, o debate sobre saúde é tratado como tema secundário nas conferências climáticas e não como pauta interligada. 

“Muitas vezes, esse diálogo acontece de forma fragmentada, especialmente dentro do próprio poder público, onde as pastas são tratadas como se estivessem completamente separadas”, afirma Danielle Cruz, coordenadora do Movimento Saúde Sustentável. “Seguimos tratando apenas as consequências das mudanças climáticas na saúde quando, na verdade, o meio ambiente deveria ser reconhecido como parte da promoção da saúde. Essa perspectiva já está presente na nossa formação enquanto profissionais do Sistema Único de Saúde (SUS), mas ainda falta integrar essa visão à prática e às políticas públicas”.

Sobre o Movimento Médicos pelo Clima

Pioneiro no Brasil ao mobilizar a classe médica no enfrentamento à mudança climática e à poluição do ar, o Movimento Médicos pelo Clima foi criado pelo Instituto Ar em 2020 e atua três frentes principais: advocacy, produção e disseminação de conhecimento científico e mobilização da classe médica. Com mais de 15 mil profissionais de saúde alcançados e presença em espaços decisivos de debate, Médicos pelo Clima integra redes como a Coalizão Clima, Crianças e Adolescentes, a Aliança Global Clima e Saúde e o Grupo de Trabalho Saúde Única da Sociedade Brasileira de Pediatria. Suas ações incluem publicações técnicas, eventos, iniciativas educativas e mobilizações públicas, reforçando a saúde como elemento central na agenda climática.

Mais informações em institutoar.org.br/medicospeloclima

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