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Lula cobra decisão política da Europa e diz que acordo Mercosul–União Europeia pode sair em janeiro

Foto: Ricardo Stuckert/PR

Redação Plenax – Flavia Andrade

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou neste sábado (20), em Foz do Iguaçu (PR), que a falta de vontade política tem sido o principal entrave para a conclusão do acordo entre o Mercosul e a União Europeia, negociado há 26 anos. A declaração foi feita durante o discurso de abertura da 67ª Cúpula de Chefes de Estado do Mercosul, que marcou o encerramento da Presidência Pro Tempore brasileira do bloco.

Segundo Lula, a expectativa inicial era de que o acordo fosse assinado ainda neste sábado, data sugerida pela própria União Europeia. No entanto, a decisão foi novamente adiada. “Após vinte e seis anos de negociações, esperávamos finalmente concluir o acordo de associação com a União Europeia. Mas, infelizmente, a Europa ainda não se decidiu”, afirmou o presidente.

Lula relatou que recebeu, na sexta-feira (19), uma carta da presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, e do presidente do Conselho Europeu, António Costa, indicando a expectativa de que o acordo possa ser firmado em janeiro de 2026. “Sem vontade política e coragem dos dirigentes, não será possível concluir uma negociação que já se arrasta por 26 anos. Enquanto isso, o Mercosul seguirá trabalhando com outros parceiros”, reforçou.

O presidente brasileiro explicou que resistências internas na Europa impediram a assinatura imediata, citando a posição histórica da França e, mais recentemente, impasses envolvendo a Itália. Segundo Lula, a primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni, enfrenta pressões internas relacionadas à distribuição de recursos agrícolas dentro da União Europeia. “Ela me disse, textualmente, que no começo de janeiro estará pronta para continuar”, relatou.

Apesar dos obstáculos, Lula demonstrou otimismo. “Se faltar apenas a França, segundo a própria liderança europeia, não há como um único país impedir o acordo. Espero que ele seja assinado no primeiro mês da presidência do Paraguai, com o companheiro Santiago Peña”, disse. A cúpula em Foz do Iguaçu marcou a transição da presidência do bloco do Brasil para o Paraguai.

Além da agenda comercial, Lula destacou avanços institucionais do Mercosul sob a liderança brasileira, especialmente na área de segurança. Os países do bloco aprovaram a Estratégia do Mercosul de Combate ao Crime Organizado Transnacional e criaram a Comissão Mercosul contra o Crime Organizado Transnacional, com foco no enfrentamento integrado a crimes como tráfico de drogas, armas, pessoas, lavagem de dinheiro e crimes ambientais.

“Enfraquecer as instituições significa abrir espaço para o crime organizado. A segurança pública é um direito do cidadão e um dever do Estado, independentemente de ideologia”, afirmou o presidente, ao defender ações conjuntas entre os países da região.

No discurso, Lula também chamou atenção para o combate ao feminicídio e à violência contra a mulher, propondo a criação de um pacto regional no Mercosul sobre o tema. Ele alertou que a América Latina é a região mais letal do mundo para mulheres, segundo dados da CEPAL.

O presidente ainda comentou a escalada de tensões envolvendo Estados Unidos e Venezuela, classificando uma eventual intervenção armada como “uma catástrofe humanitária” e um precedente perigoso para o continente. Defendeu, mais uma vez, a América do Sul como zona de paz e integração.

Ao encerrar sua fala, Lula destacou o simbolismo de Foz do Iguaçu e da recente inauguração da nova ponte entre Brasil e Paraguai, na sexta-feira (19). “Em um mundo onde parece mais fácil erguer muros do que construir pontes, esse exemplo precisa ser lembrado”, afirmou.

Durante a cúpula, o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, apresentou um balanço da Presidência Pro Tempore brasileira, ressaltando avanços em temas como transição energética, desenvolvimento tecnológico, fortalecimento do mercado regional e combate ao crime organizado. Para o próximo semestre, caberá ao Paraguai dar continuidade às negociações estratégicas do bloco, incluindo a ampliação de acordos comerciais e a consolidação da integração regional.

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