*Por Fabiana Guerra
Os Estados Unidos estão no centro da transformação econômica mundial, mas o protagonismo americano vai além da força do dólar ou do tamanho do mercado interno. A liderança atual se sustenta sobre dois pilares interligados: a inovação tecnológica e a influência geopolítica.
Ao dominar setores estratégicos como inteligência artificial (IA), semicondutores e tecnologias de ponta, os EUA não apenas atraem capital, mas redefinem o próprio conceito de poder econômico. O que antes era movido por energia e manufatura hoje é impulsionado por dados, algoritmos e inovação contínua.
O modelo norte-americano combina abertura ao risco, políticas públicas direcionadas e uma cultura empreendedora profundamente enraizada. Essa tríade transforma idéias em negócios globais e mantém o país na dianteira da economia mundial.
O novo protecionismo estratégico
Além do dinamismo tecnológico, os Estados Unidos têm utilizado instrumentos de política industrial e diplomacia econômica para reforçar sua liderança. A recente Lei de Chips (CHIPS Act) e a Lei de Redução da Inflação (Inflation Reduction Act) ilustram esse movimento, ao buscar fortalecer cadeias produtivas críticas e reduzir a dependência de insumos vindos da Ásia, especialmente semicondutores.
Essas medidas representam mais do que estímulos econômicos: traduzem uma visão de longo prazo, que combina proteção do que é estratégico, incentivo ao que é inovador e foco na competitividade estrutural. Em paralelo, o Governo mantém forte influência em instituições multilaterais como o FMI e o Banco Mundial, moldando a governança financeira internacional e os padrões que orientam os fluxos globais de investimento.
A convergência entre tecnologia e diplomacia econômica fez dos Estados Unidos não apenas um destino de capital, mas um arquiteto das regras que direcionam o capital no mundo.
Mesmo diante das tensões com a China e da ascensão de novos pólos de inovação, os EUA seguem como o principal receptor de investimentos em tecnologia. O país combina uma economia diversificada com um mercado interno robusto, criando um ciclo virtuoso: a inovação gera crescimento, que atrai capital, que alimenta novos avanços tecnológicos.
Inovação como instrumento de poder
Mais do que vantagem competitiva, a inovação tornou-se um instrumento de poder nacional, e os Estados Unidos compreenderam isso antes de qualquer outro país. O domínio em áreas como IA generativa, semicondutores avançados e computação em nuvem oferece uma vantagem que transcende o campo econômico e se converte em influência global.
Esse poder se manifesta tanto na capacidade de atrair talentos e empresas, quanto na habilidade de definir padrões tecnológicos e regulatórios que o restante do mundo tende a seguir. Em outras palavras: os EUA não apenas inovam, eles ditam o ritmo da inovação.
Para investidores e empresas globais, compreender essa dinâmica é essencial. As oportunidades mais estratégicas não estão apenas em acompanhar o movimento americano, mas em entender a lógica que o sustenta.
Em um cenário de competição tecnológica e reconfiguração das cadeias produtivas, os Estados Unidos seguem liderando a corrida da inovação e moldando o destino do capital internacional. O país transformou conhecimento, capital e estratégia em uma fórmula de poder que redefine a economia global: é uma equação que o mundo inteiro ainda tenta decifrar.
*Fabiana Guerra é fundadora e líder de mobilidade global da Astra Global Advisors. Advogada e contadora especializada em internacionalização de carreiras e negócios, acumula passagens por grandes corporações como PwC, Procter & Gamble, C&A Modas, LATAM Airlines e Grupo Coca-Cola.

