Da Redação
Custos com importação de máquinas, equipamentos agrícolas e insumos importados tendem a comprometer a alavancagem operacional dos produtores
Estimado para encerrar o ano com crescimento de 8,2% no volume de vendas de máquinas e equipamentos agrícolas em comparação com 2024, segundo o último levantamento da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (ABIMAQ), com a recente implementação de uma nova taxação sobre produtos agrícolas importados, incluindo maquinários dos Estados Unidos, o setor produtivo brasileiro está revendo suas estratégias de investimento e financiamento.
Além do setor de maquinários, o Brasil importa 85% do adubo utilizado, segundo dados da Anda (Associação Nacional para Difusão de Adubos). Apesar do impacto inicial sobre os custos operacionais dos produtores rurais, o cenário cria uma oportunidade estratégica para o mercado de capitais, especialmente para os Fundos de Investimento em Direitos Creditórios (FIDCs), afirma Israel Malheiros, COO da Vertrau, fintech especializada em gestão de recebíveis.
“O aumento dos custos com importação tende a comprometer a alavancagem operacional de muitos produtores, elevando sua necessidade de capital de giro.” Neste contexto, completa, o crédito tradicional via instituições financeiras pode se tornar mais seletivo ou oneroso, sobretudo para pequenos e médios produtores.
Malheiros salienta que esse desequilíbrio gera um vácuo de crédito no sistema bancário tradicional, criando espaço para os FIDCs atuarem como canal ágil e especializado de funding – captação de recursos para investimento. “Fundos estruturados, com foco em recebíveis agrícolas, podem absorver a demanda reprimida por financiamento, atuando em diversas pontas da cadeia, que pode variar do produtor ao distribuidor de insumos.”
Valorização do crédito
Com a escassez relativa de crédito bancário neste período, o COO da Vertrau observa que ativos agrícolas passam a ser mais valorizados no mercado secundário. Cedentes com histórico sólido e garantias reais (como CPRs e duplicatas de cooperativas) tornam-se ainda mais atrativos para originação de operações dentro dos FIDCs.
Além disso, completa Malheiros, a taxação impulsiona a valorização da indústria nacional de maquinário e insumos, fortalecendo cadeias produtivas locais que tendem a gerar novos fluxos de recebíveis. Estes, por sua vez, são potenciais lastros para novas operações de FIDC.
“Os FIDCs que atuam com foco no agronegócio ou com mandatos flexíveis para originação em operações estruturadas rurais têm a chance de aumentar a participação de mercado, oferecendo crédito sob medida, com mais rapidez e menos burocracia que o sistema bancário”, analisa.
Além disso, completa, a busca por eficiência operacional pode estimular produtores a adotar tecnologias financeiras e plataformas digitais de crédito — cenário ideal para FIDCs integrados a soluções tecnológicas (fintechs ou plataformas como a VeHub).
Israel observa que a nova taxação pressiona as margens, mas também evidencia a importância da diversificação de fontes de financiamento. “FIDCs passam a ser agentes-chave para garantir liquidez no setor agroindustrial, transformando o desafio tributário em uma janela de crescimento para o crédito privado estruturado.”