Redação Plenax – Flavia Andrade
A Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) viveu, em 2025, um dos períodos mais estruturantes de sua história em Mato Grosso do Sul. A combinação entre a ampliação de serviços, a interiorização estratégica da assistência e a criação do Protocolo Unificado de Atendimento a Emergências Psiquiátricas consolidou um novo patamar de organização e resposta da política estadual de saúde mental.
“Com a expansão da RAPS e a padronização dos fluxos de emergência, avançamos significativamente na qualificação do cuidado e na capacidade de resposta dos serviços. É um movimento que fortalece toda a rede”, avalia a coordenadora de Áreas Temáticas e Saúde Mental da Secretaria de Estado de Saúde (SES), Arielle Jheniffer dos Reis.
Novo fôlego para a rede
A expansão ganhou ritmo com a implantação de novos serviços e o fortalecimento das estruturas já existentes. Um dos destaques foi o Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) de Amambai, que, em apenas quatro meses de funcionamento, apresentou indicadores de acolhimento e acompanhamento acima da média para unidades recém-implantadas. O serviço ampliou a oferta de cuidado especializado no Cone Sul e reduziu a necessidade de longos deslocamentos, além de aliviar a demanda de municípios vizinhos.
Protocolo unificado marca mudança estrutural
Paralelamente, o Estado avançou de forma inédita na construção do Protocolo Unificado de Atendimento a Emergências Psiquiátricas. A iniciativa padroniza fluxos, responsabilidades e abordagens técnicas para situações de crise em todo o território sul-mato-grossense.
Para a superintendente de Atenção à Saúde da SES, Angélica Congro, o protocolo representa um divisor de águas. “A ausência de padronização sempre foi um desafio. Com o protocolo unificado, estabelecemos uma linha de cuidado clara, que organiza a rede, dá segurança às equipes, reduz encaminhamentos desnecessários e fortalece o atendimento no território”, afirma.
O documento foi construído de forma integrada, com a participação de hospitais gerais, CAPS, SAMU, gestores municipais e especialistas, consolidando um modelo focado em segurança clínica, acolhimento imediato e fluxos mais resolutivos.
Regionalização amplia acesso
A regionalização da saúde mental avançou com a aprovação do Plano de Ação Regional da RAPS 2025 (PAR-2025), que permite a organização de municípios de pequeno porte em arranjos regionais para a oferta de serviços especializados. Entre 2022 e 2025, a rede passou de 33 para 40 CAPS, com a projeção de alcançar 56 unidades até 2029, cobrindo cerca de 87% dos municípios.
O PAR-2025 prevê ainda a implantação de 17 novos CAPS, três CAPS regionalizados, quatro Serviços Residenciais Terapêuticos (SRT) e uma Unidade de Acolhimento Adulto (UA-A), configurando uma expansão inédita da RAPS no estado. A iniciativa descentraliza o atendimento, reduz deslocamentos e garante acesso efetivo à saúde mental em regiões historicamente desassistidas.
Articulação regional e qualificação profissional
O fortalecimento da rede foi acompanhado por uma agenda intensa de articulação e capacitação. Ao longo de novembro, as três macrorregiões de Mato Grosso do Sul promoveram encontros estratégicos voltados à saúde mental.
No Pantanal, em Corumbá, profissionais debateram a qualificação dos serviços, com foco na atenção primária, urgência e emergência e análise das linhas de cuidado da RAPS. No Cone Sul, em Dourados, oficinas abordaram educação popular em saúde, cuidado em liberdade, redução de danos, saberes tradicionais indígenas e reabilitação psicossocial. Já na Costa Leste, em Chapadão do Sul, o encontro “Cuidar em Rede” integrou diferentes pontos da rede para discutir manejo de crise, cuidado territorial, TEA, teleatendimento e práticas integrativas, reforçando o alinhamento regional.
Prevenção ao suicídio ganha novo impulso
Retomado em 2025, o Comitê Estadual de Prevenção ao Suicídio passou a integrar de forma estruturada a reorganização da política estadual de saúde mental. Entre as primeiras entregas do colegiado está o Fluxo Estadual de Atendimento a Casos de Tentativa de Suicídio, formalizado por meio de nota técnica.
O documento orienta os serviços de saúde sobre acolhimento qualificado, manejo adequado e encaminhamento oportuno de pessoas em situação de crise, com foco na garantia de cuidado integral, humanizado e contínuo em toda a rede de atenção.
Com expansão territorial, padronização inédita e fortalecimento da articulação regional, Mato Grosso do Sul consolida um novo modelo de atenção à saúde mental, ampliando o acesso, qualificando o cuidado e reforçando a resposta do Estado às demandas da população.

