Redação Plenax – Flavia Andrade
Ao longo dos três primeiros anos do terceiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a política externa brasileira entrou em uma nova fase, marcada pela reconstrução do diálogo diplomático, pelo retorno ao multilateralismo ativo e pela ampliação da influência do país nos principais debates globais. O reposicionamento recolocou o Brasil no centro da agenda internacional e fortaleceu sua capacidade de articulação política, econômica e social.
A presença constante do presidente em fóruns estratégicos e a liderança em temas sensíveis — como combate à fome, integração regional, transição climática justa, defesa da democracia e reforma da governança global — passaram a integrar de forma estruturada a estratégia de desenvolvimento nacional.
“O BRICS é um novo jeito de fazer o multilateralismo sobreviver no mundo. Queremos fortalecer a democracia, o desenvolvimento, a paz e a participação social, sem repetir erros do passado”, afirmou Lula durante a Cúpula de Chefes de Estado do bloco, realizada em julho, no Rio de Janeiro.
BRICS e fortalecimento do Sul Global
O BRICS consolidou-se como um dos pilares centrais da política externa brasileira no período, ampliando a articulação entre países do Sul Global. Juntos, os membros do grupo concentram parcela expressiva da população mundial, do Produto Interno Bruto global, da produção de alimentos e da oferta de energia.
Em janeiro de 2025, o Brasil assumiu pela quarta vez a presidência pro tempore do BRICS, sob o lema “Fortalecendo a Cooperação do Sul Global para uma Governança mais Inclusiva e Sustentável”. A agenda priorizou cooperação prática em desenvolvimento sustentável, financiamento, redução das desigualdades e coordenação política.
Durante o período, também foi reforçado o papel do Novo Banco de Desenvolvimento (NDB) como instrumento estratégico para financiar projetos estruturantes, com foco em inovação, transição energética, saúde, ciência e tecnologia.
Combate à fome no centro da agenda global
A centralidade do Sul Global também marcou a presidência brasileira do G20, em 2024. O Brasil levou o combate à fome e à pobreza ao núcleo da agenda econômica internacional, reforçando a dimensão social do desenvolvimento.
O principal legado foi o lançamento da Aliança Global contra a Fome e a Pobreza, inspirada na experiência brasileira de políticas públicas. Atualmente, a iniciativa reúne mais de 200 membros, entre países, organismos internacionais, bancos multilaterais e entidades da sociedade civil, com resultados já em implementação em diversas nações.
Segundo o ministro do Desenvolvimento e Assistência Social, Wellington Dias, a Aliança avançará em 2026 com a criação de um mecanismo voluntário de alinhamento de financiamento, ampliando a capacidade de apoio a países que enfrentam insegurança alimentar.
Integração regional e segurança no MERCOSUL
No segundo semestre de 2025, o Brasil exerceu a presidência pro tempore do MERCOSUL, reforçando a integração regional como instrumento estratégico de desenvolvimento e inserção internacional da América do Sul. Entre as prioridades estiveram a ampliação da coesão do bloco, o fortalecimento do mercado regional e a atualização de agendas como transição energética, inovação tecnológica e enfrentamento ao crime organizado.
Um dos destaques foi a aprovação da Estratégia do MERCOSUL de Combate ao Crime Organizado Transnacional e a criação de uma comissão permanente para coordenar ações conjuntas de segurança pública e justiça. “Enfraquecer as instituições é abrir espaço para o crime organizado. A segurança pública é um direito do cidadão e um dever do Estado”, afirmou Lula durante a Cúpula de Líderes, em Foz do Iguaçu.
Também foi inaugurado o Centro de Cooperação Policial Internacional da Amazônia (CCPI Amazônia), que reúne forças de segurança de nove estados brasileiros e de países sul-americanos para atuação integrada contra organizações criminosas transnacionais.
Liderança climática e COP30 em Belém
A agenda ambiental voltou a ocupar posição central na política externa brasileira. A escolha do Brasil como sede da COP30, realizada em Belém (PA), simbolizou o reconhecimento internacional do papel estratégico do país no enfrentamento da crise climática.
Após quase duas semanas de negociações, os países aprovaram por consenso o chamado Pacote de Belém, com 29 decisões que avançam em temas como financiamento climático, transição justa, preservação das florestas, gênero e tecnologia. Para o governo brasileiro, a transição para uma economia de baixo carbono deve ser justa, inclusiva e compatível com o desenvolvimento social.
“O multilateralismo saiu vitorioso, e Belém ganhou um legado duradouro. A coragem para enfrentar a crise climática exige persistência e esforço coletivo”, destacou a ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva.
Democracia, soberania e multilateralismo
Em fóruns regionais e globais, a defesa da democracia, da paz e do multilateralismo permeou a atuação brasileira. Na Cúpula entre a Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (CELAC) e a União Europeia, Lula defendeu uma ordem mundial mais equilibrada e multipolar, comprometida com soluções pacíficas para conflitos.
A mesma diretriz orientou a participação brasileira em encontros asiáticos, como a Cúpula da ASEAN, na Malásia, onde o presidente ressaltou a convergência de valores e desafios entre o Brasil e os países do Sudeste Asiático.
Ao final de três anos, a política externa brasileira consolidou uma estratégia baseada no diálogo, na cooperação e na defesa de um mundo multipolar, reposicionando o país como ator relevante nas grandes decisões globais e ampliando sua influência política, econômica e diplomática.

