Da Redação
Identificação tardia, não é fim da linha, métodos podem acelerar a evolução da criança
O recente anúncio de que o filho da cantora Manu Bahtidão recebeu diagnóstico de Transtorno do Espectro Autista (TEA) reacendeu um debate importante no país: o crescimento no número de diagnósticos e as novas possibilidades terapêuticas que têm oferecido mais autonomia e qualidade de vida para pessoas no espectro.
Embora a comunidade científica ainda não tenha respostas definitivas para o aumento dos diagnósticos de TEA e TDAH, equipes multidisciplinares em todo o mundo têm avançado no desenvolvimento de ferramentas capazes de apoiar o neurodesenvolvimento. No Brasil, dados do Censo 2022 revelam que 2,4 milhões de brasileiros têm diagnóstico de TEA, o que corresponde a 1,2% da população. A atualização dos dados, divulgada em 2025, sugere um crescimento que pode estar relacionado à maior conscientização das famílias e ao aprimoramento dos recursos de avaliação.
Entre as abordagens tradicionais, o método ABA segue como um dos mais eficazes e amplamente utilizados. No entanto, os últimos anos também foram marcados por avanços significativos em técnicas complementares que ampliam as possibilidades terapêuticas — e uma delas vem ganhando especial destaque entre especialistas: a neuromodulação, especialmente por meio da estimulação transcraniana por corrente contínua (tDCS) e da estimulação magnética transcraniana (TMS).
Estudos recentes demonstram benefícios relevantes. Em uma revisão publicada, a tDCS foi associada a melhoras moderadas na atenção e no controle da impulsividade em crianças com TDAH. Outro estudo, conduzido com adolescentes e adultos com TEA de alto funcionamento, identificou que a estimulação elétrica transdérmica aplicada por cinco dias consecutivos reduziu níveis de ansiedade e promoveu ajustes positivos na atividade autonômica, como a variabilidade da frequência cardíaca, em comparação a tratamentos simulados.
Embora ainda sejam necessários protocolos mais amplos e amostras maiores, as evidências reforçam o potencial da neuromodulação como estratégia emergente no cuidado ao neurodesenvolvimento.
Neuromodulação no Brasil: prática em expansão
Ainda recente no país, a técnica já é aplicada em hospitais e clínicas especializadas. Segundo a neuropsicóloga Patrícia Strebinger, da Clínica Ahavah, os resultados têm sido animadores.“A neuromodulação atua diretamente na regulação da atividade cerebral, o que pode melhorar a atenção, a impulsividade, o controle emocional e até as interações sociais. Ela não substitui terapias ou medicamentos, mas potencializa os resultados e contribui para o bem-estar geral do paciente”, explica.
O procedimento é não invasivo, indolor e seguro, podendo ser indicado para crianças e adultos. As sessões são rápidas e os efeitos surgem de forma gradual, refletindo em maior capacidade de concentração, mais estabilidade emocional e melhor desempenho nas atividades do dia a dia.
Para Patrícia, o diferencial da técnica está na compreensão de que o cérebro é plástico e capaz de se reorganizar. “Quando entendemos que o cérebro pode funcionar de maneira mais equilibrada, abrimos uma janela de possibilidades para o aprendizado, o comportamento e a convivência. É um avanço que traz esperança e qualidade de vida para muitas famílias”, afirma.
A especialista ressalta que a neuromodulação deve ser integrada a outras abordagens, como psicologia, neuropsicologia e fonoaudiologia, compondo um cuidado completo, ético e individualizado.
Sobre a especialista
Patrícia Strebinger é psicóloga com pós-graduação em Neuropsicologia e Terapia Cognitivo-Comportamental, além de especialização em aplicação de neuromodulação. Atua no Itaim Bibi (SP) com foco em psicoterapia integrativa, intervenções neuropsicológicas e tratamentos inovadores para ansiedade, depressão, TDAH, TEA, dores crônicas, Parkinson e Alzheimer.
Instagram: @psi_patriciastrebinger
Site: clinicaahavah.com.br
