Redação Plenax – Flavia Andrade
A campanha Dezembro Vermelho, dedicada à conscientização sobre HIV/Aids, reacende um debate crucial: a prevenção das Infecções Sexualmente Transmissíveis precisa ser mais ampla, contínua e integrada. Especialistas alertam que restringir o cuidado à testagem de HIV é insuficiente diante do crescimento de infecções silenciosas como sífilis, clamídia, HPV e hepatites virais — doenças que muitas vezes não apresentam sintomas, mas podem gerar consequências graves se não diagnosticadas a tempo.
Segundo a infectologista Luciana Campos, consultora médica do Sabin Diagnóstico e Saúde, o check-up regular é fundamental para interromper cadeias de transmissão e garantir tratamento adequado. “Muitas pessoas ainda associam a testagem de ISTs apenas ao HIV, mas há um universo de infecções que merecem atenção. A sífilis, por exemplo, cresce em ritmo alarmante no Brasil e pode ser facilmente identificada com um simples exame de sangue”, explica.
Para a médica, testar-se periodicamente é um ato de autocuidado e responsabilidade. “A testagem periódica permite que o indivíduo conheça sua condição de saúde, receba o tratamento correto e proteja também seus parceiros”, destaca.
O que deve incluir um check-up completo de ISTs
Após avaliação médica, o conjunto de exames recomendado costuma incluir:
HIV 1 e 2 – Testes de quarta geração detectam o vírus em janela imunológica reduzida.
Sífilis (VDRL e testes treponêmicos) – Identificam diferentes fases da infecção.
Hepatites Virais B e C – Podem evoluir de forma crônica e causar danos hepáticos graves.
HPV – Testes moleculares e Papanicolau são essenciais, especialmente para prevenção do câncer de colo do útero.
Clamídia e Gonorreia – Assintomáticas e comuns, podem levar à doença inflamatória pélvica e infertilidade.
Herpes simples (tipo 1 e 2) – Sorologia detecta o vírus mesmo fora dos períodos de crise.
Prevenção combinada: o modelo mais eficaz
A testagem é apenas um dos pilares da chamada prevenção combinada, que reúne:
uso consistente de preservativos
acesso à PrEP (Profilaxia Pré-Exposição)
vacinação contra HPV e Hepatite B
testagem regular
acompanhamento médico e diálogo aberto sobre saúde sexual
Segundo Luciana, mais do que uma campanha anual, o Dezembro Vermelho deve incentivar práticas contínuas. “Informação, prevenção e testagem são pilares para uma vida saudável e responsável”, afirma.
ISTs no Brasil: cenário ainda preocupante
Apesar dos avanços no tratamento do HIV, o país enfrenta crescimento expressivo de outras infecções. De acordo com o Boletim Epidemiológico de 2023:
36,7 mil novos casos de HIV foram registrados no país; a tendência é de queda na progressão para Aids.
A epidemia segue concentrada em jovens de 15 a 29 anos e em populações-chave.
A sífilis segue em curva ascendente:
213 mil casos de sífilis adquirida notificados em 2022.
27 mil casos de sífilis congênita no mesmo ano, com alta mortalidade infantil.
O HPV permanece entre as ISTs mais prevalentes:
Mais de 50% dos jovens sexualmente ativos podem estar infectados.
O vírus é responsável por quase todos os casos de câncer de colo do útero, que registra 17 mil novos casos anuais no Brasil.
As hepatites também preocupam:
Em 2022, foram 13,5 mil casos de Hepatite B e 23,7 mil de Hepatite C.
A vacina contra Hepatite B e os tratamentos eficazes para Hepatite C reforçam a importância do diagnóstico precoce.
Clamídia e gonorreia, embora entre as ISTs mais comuns, não são de notificação compulsória, o que resulta em ampla subnotificação e dificulta um panorama real da situação no país.

