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Brasil avança na pecuária sustentável com tecnologias que reduzem emissões e ampliam produtividade

Foto: Divulgação

Redação Plenax – Flavia Andrade

Especialistas destacam que o Brasil já reúne condições para expandir a pecuária e, ao mesmo tempo, reduzir impactos ambientais — da compactação do solo à emissão de gases de efeito estufa — sem ampliar áreas de pastagem. Inovações apresentadas na 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP 30), em Belém, reforçam o potencial do setor.

Dados da Embrapa Territorial mostraram que produtores brasileiros preservam 29% das matas nativas dentro das próprias propriedades. Para cada hectare destinado à agropecuária, outros 0,9 hectares permanecem protegidos, somando 2,1 hectares de vegetação nativa a cada hectare produtivo.

Tifton 85: a gramínea que transforma pastagens e captura mais carbono

O zootecnista Oswaldo Stival Neto destaca que a adoção de tecnologias sustentáveis já gera resultados concretos. Entre elas, o capim Tifton 85 vem ganhando força entre pecuaristas brasileiros.

Originado do cruzamento de uma espécie de clima temperado dos Estados Unidos com outra de clima tropical africano, o Tifton 85 — criado em 1992 — se diferencia pela alta produção de matéria seca, pela capacidade de cobertura total do solo e pelo valor nutritivo para o gado, cerca do dobro do fornecido pela braquiária tradicional.

Pesquisas internacionais indicam que a gramínea tem potencial para sequestrar até cinco vezes mais carbono que outras forrageiras. No Brasil, um estudo da Epagri apontou raízes que chegam a 2 a 3 metros de profundidade e capacidade de remover até 3,79 toneladas de CO₂ equivalente por hectare ao ano, quando bem manejada.

Stival explica que o avanço recente ocorreu graças a uma nova técnica brasileira de plantio por mudas — semelhante ao cultivo de hortaliças como tomate e batata — que tornou a implantação mais eficiente, substituindo o método antigo feito por ramas.

Cobertura total do solo e proteção dos mananciais

O Tifton 85 tem crescimento estolonífero, formando um “colchão verde” que cobre completamente o solo, reduzindo erosão, compactação e perda de biodiversidade. A maior infiltração da água da chuva diminui o risco de esterco e sedimentos contaminarem rios e córregos.

Segundo Stival, o sistema cria um ciclo positivo: fezes, folhas e resíduos se transformam em matéria orgânica, enriquecendo o solo e aumentando a atividade microbiana — essencial para o sequestro e a fixação de carbono.

“Todo o carbono capturado vai para as raízes e para a microbiota do solo, onde é retido por mais tempo. Com mais matéria orgânica, há mais vida microbiana, e isso significa maior fixação de carbono”, explica.

Mais bois por hectare, menos necessidade de desmatar

Além dos ganhos ambientais, o uso do Tifton 85 eleva significativamente a produtividade. Com valor nutritivo superior, é possível multiplicar a lotação animal de uma para até sete cabeças por hectare, alcançando cerca de 40 arrobas por hectare sem uso de ração.

A tecnologia reduz a pressão por abertura de novas áreas e contribui diretamente para o combate ao desmatamento.

“Se adotarmos o manejo correto, o Brasil pode atender a um aumento global de 50% na demanda por proteína animal utilizando apenas 20% da área de pastagem atual”, calcula o especialista.

Stival afirma que os pecuaristas estão abertos às mudanças e buscam sustentabilidade como forma de garantir o futuro da produção. A tecnologia, inicialmente difundida em Goiás, já se espalha pelo país.

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