*Por Patrícia Rodrigues
Durante muito tempo, o anestesista foi lembrado apenas como o profissional que trata da sedação do paciente para um procedimento cirúrgico. Essa visão reducionista ignora o papel fundamental que a anestesiologia passou a desempenhar no modelo contemporâneo de assistência hospitalar. O anestesiologista é peça-chave na integração multidisciplinar, na gestão clínica e na transformação do cuidado centrado no paciente.
Com o avanço da medicina baseada em valor e a busca por resultados mensuráveis, esse profissional se posiciona como protagonista na jornada assistencial, do preparo pré-operatório ao acompanhamento pós-alta. De acordo com a Sociedade Brasileira de Anestesiologia (SBA), a especialidade está presente em mais de 60% dos procedimentos hospitalares realizados no país, o que evidencia sua influência direta sobre a qualidade e a segurança do cuidado.
Do centro cirúrgico à governança clínica
A prática anestésica moderna vai muito além do controle da dor. O anestesiologista atua na avaliação pré-operatória, no manejo da dor aguda e crônica e na implementação de protocolos de recuperação acelerada pós-cirurgia (ERAS), que podem reduzir o tempo médio de internação em até 30%, segundo estudos do Journal of Clinical Anesthesia. Essa atuação integrada contribui para desfechos mais seguros, melhor experiência do paciente e uso racional de recursos.
Outro campo de destaque é o cuidado paliativo da dor, em que o anestesista exerce um papel humanizado e essencial. Além de aliviar o sofrimento físico, participa de decisões terapêuticas complexas, promovendo conforto e dignidade em fases críticas do tratamento. Essa abordagem amplia o escopo da anestesiologia e reafirma seu papel como especialidade que equilibra técnica e empatia.
No contexto da anestesia baseada em valor, o profissional também atua como gestor de eficiência. Monitorando indicadores como tempo de recuperação, taxa de complicações e reinternações, contribuindo para modelos assistenciais sustentáveis, com integração da segurança do paciente e a performance hospitalar.
Liderança silenciosa, impacto profundo
A liderança do anestesiologista é, muitas vezes, discreta, mas decisiva. Ele está presente nas discussões clínicas, nas comissões de protocolos assistenciais e na definição de tecnologias médicas, influenciando diretamente os rumos da assistência hospitalar. Sua atuação interdisciplinar fortalece a cultura de corresponsabilidade entre equipes e reduz significativamente eventos adversos.
A anestesiologia do século XXI, portanto, consolida-se como vetor de transformação no cuidado hospitalar. Mais do que eliminar a dor, o anestesista moderno lidera processos e integra especialidades, assegurando o melhor desfecho clínico possível.
O futuro da saúde passa, silenciosamente, pelas mãos de quem garante que cada paciente acorde com segurança e cada hospital desperte para um novo modelo de cuidado.
- Patrícia Rodrigues é Gerente de Unidade de Negócios – Acessos Vasculares, Sistemas Intravenosos e Anestesia Regional na B.Braun, multinacional alemã referência em soluções médico-hospitalares.
