Da Redação
Um levantamento do FitLab mostrou que 34% dos usuários mantêm suas metas, evidenciando resultados consistentes no acompanhamento digital. Outra pesquisa apontou que 52% dos apps de nutrição promovem melhorias nos hábitos alimentares
Nos últimos anos, a mesa dos brasileiros passou a dividir espaço com a tela do celular. Entre planilhas de calorias, notificações sobre hidratação e gráficos de evolução, a alimentação se tornou um dos campos mais férteis da transformação digital. E, enquanto os números da obesidade crescem, a tecnologia começa a mostrar que também pode funcionar a favor da saúde.
Aproximadamente um a cada três brasileiros (31%) vive com obesidade, e essa porcentagem tende a crescer nos próximos cinco anos. No país, cerca da metade da população adulta (entre 40% e 50%) não pratica atividade física na frequência e intensidade recomendadas.
Os dados são do Atlas Mundial da Obesidade 2025 (World Obesity Atlas 2024), da Federação Mundial da Obesidade (World Obesity Federation – WOF). O relatório mostra que, no Brasil, 68% da população adulta tem excesso de peso, sendo que 31% apresentam obesidade e 37% sobrepeso. O Atlas ainda projeta que, até 2030, o número de homens com obesidade pode aumentar 33,4%, enquanto, entre as mulheres, a porcentagem pode crescer 46,2%.
É nesse hiato entre o saber e o fazer que a tecnologia se estabelece. O mercado global de aplicativos de dieta e nutrição foi avaliado em US$ 2,14 bilhões em 2024 e deve atingir US$ 4,56 bilhões até 2030, crescendo a uma taxa composta de crescimento anual (CAGR) de 13,4% entre 2025 e 2030, segundo a Grand View Research.
Além disso, de acordo com a Towards FnB, o tamanho do mercado global de IA em nutrição personalizada é calculado em US$ 4,89 bilhões em 2025 e deve aumentar para US$ 21,54 bilhões até 2034, refletindo um CAGR impressionante de 17,9% de 2025 a 2034.
Mas o valor real desse mercado está em outro dado: o comportamento humano. “Os algoritmos não estão ensinando as pessoas a comer, estão aprendendo como elas comem. E é a partir desse aprendizado que começam a surgir as soluções mais eficazes”, afirma a CEO da Fitlab, Renata Ikeda, plataforma brasileira de nutrição.
A história do FitLab começa como a de muitos usuários: com a tentativa frustrada de manter o foco na alimentação equilibrada. “Quando começamos, queríamos entender por que a maioria das dietas falha antes do terceiro mês. A resposta veio dos dados. Descobrimos que o principal problema é que as pessoas não conseguem acompanhar corretamente o que comem e como se alimentam no dia a dia”, explica Renata.
O app foi desenhado como um diário alimentar inteligente. Mas, com o tempo, se transformou em algo mais sofisticado: um sistema de aprendizado que identifica padrões, sugere ajustes e mede a consistência do comportamento alimentar.
Hoje, com 1 milhão de refeições registradas em quatro anos, a plataforma gera uma base de dados que revela o que o discurso de “vida saudável” muitas vezes esconde — que o problema não está na falta de informação, mas na falta de monitoramento contínuo.
A CEO explica: “A partir de milhões de registros diários, o app vem acumulando uma base de dados que revela padrões de comportamento, como horários de refeições, tipos de alimentos, reincidência de escolhas ultraprocessadas e adesão a metas nutricionais. Esses dados, anonimizados e analisados por algoritmos próprios, ajudam a entender como o brasileiro come — e onde falha”.
Para Renata, não se trata apenas de números, mas de histórias e hábitos que se modificam, como refeições registradas, escolhas mais informadas, metas traçadas e cumpridas. “Assumimos o papel de ‘aliado prático e acessível’, uma ‘fonte de informação, um guia para saber o que consumir’, e trabalhamos para que o usuário, em seu cotidiano, passe de decisão impulsiva a escolha consciente”.
Ikeda conta que um levantamento realizado pela empresa indica que 34% dos usuários conseguem se manter dentro da meta, percentual que reforça a consistência e a eficácia do acompanhamento digital.
“Esse número pode parecer modesto à primeira vista, mas, na realidade, ele mostra que estamos construindo hábitos duradouros. A mudança de comportamento não é instantânea; é progressiva, mensurável e, acima de tudo, sustentável”, afirma a CEO.
Pesquisas científicas vêm reforçando essa tese. Um estudo de 2024, publicado no Frontiers in Digital Health, mostrou que 52% dos aplicativos de nutrição analisados resultaram em mudanças positivas no comportamento alimentar. Outro, do Nutrition Journal, publicado em 2024, apontou que 22,4% dos usuários de plataformas digitais perderam mais de 5% do peso corporal e mantiveram a redução por mais de dois anos.
Na prática, o FitLab e outros sistemas funcionam como espelhos comportamentais. Ao longo de um dia comum, o usuário registra refeições, horários e quantidades. O sistema cruza as informações com metas nutricionais e padrões históricos e devolve relatórios personalizados sobre a qualidade da dieta, horários críticos e pontos de atenção.
“É um tipo de inteligência que não manda você comer alface. Ela mostra, com base em evidências, o que acontece quando você não come. É uma mudança de perspectiva — e de responsabilidade”, diz.
Especialistas chamam isso de “nutrição preditiva”, isto é, o uso de dados individuais para personalizar recomendações em tempo real. O conceito já movimenta laboratórios, startups e políticas públicas.
“Durante décadas, a nutrição foi prescritiva. Um profissional dizia o que você devia comer. Agora, ela é adaptativa, quando os sistemas observam o comportamento e ajustam as recomendações continuamente. Isso é inédito em escala populacional”, destaca.
Essa virada de chave abre caminho para uma nova perspectiva sobre alimentação, mais consciente, personalizada e orientada por dados.
“Estamos falando de um novo tipo de relacionamento com a comida. O que antes era culpa, agora é dado. O que antes era tentativa, agora é processo. A tecnologia não promete emagrecimento rápido, ela oferece consistência”.
E assim, o avanço dessas plataformas não se tornou apenas um movimento de mercado, mas um fenômeno cultural. “A contagem de calorias deu lugar à análise de comportamento. A dieta virou dashboard. E, em um país que ainda enfrenta insegurança alimentar e aumento no consumo de ultraprocessados, talvez a maior inovação tecnológica da nutrição esteja em algo simples, como devolver ao indivíduo o poder de escolha — sustentado por informação precisa”, resume.
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Sobre a Fitlab: https://www.fitlab.com.br/
