*Por Letícia Porfírio
Vivemos um momento em que o consumo e a produção de conteúdo estão em plena transformação. Isso exige que quem trabalha com marketing entenda duas forças que se cruzam: de um lado, plataformas virais que demonstram o que “é assunto” e de outro, novas formas de contar histórias em formatos curtos e multiplataformas.
A primeira dessas forças aparece quando percebemos que o TikTok “virou o novo diretor de marketing de Hollywood”. E não é metáfora: estúdios estão contratando criadores de edits de TikTok para promover filmes. Um desses vídeos ultrapassou 190 milhões de visualizações, e coincidiu com aumento de 29% na audiência do filme no streaming. Quase metade (47%) dos usuários disse ter descoberto um filme pelo TikTok e 36% compraram ingresso após ver algo lá. Isso nos mostra que não basta mais fazer anúncio. É preciso ganhar atenção e engajamento em plataformas onde a audiência escolhe, pula, comenta e compartilha.
A segunda força vem do mundo narrativo. A Globo lançou microdramas: formatos de 2 a 3 minutos, verticais, pensados para consumo mobile e multiplataforma. A empresa fala em “linguagem própria para os microdramas”, integrando dramaturgia tradicional à lógica digital, com personagens que transitam entre novela, redes sociais e streaming. Aqui vemos o marketing entrando na narrativa.
Essas duas tendências têm implicações claras: 1) plataformas como TikTok não são apenas canais de veiculação, mas ativadores de narrativa e descoberta; 2) formatos narrativos curtos e imersivos transformam marcas em produtores de conteúdo contínuo, não apenas anunciantes pontuais.
Quando a audiência se move rápido, pular de vídeo em vídeo virou hábito e as telas se multiplicam, a velha estratégia de “veículo + mensagem + call to action” se torna obsoleta. É necessário pensar em ecossistemas de marca onde o conteúdo é tão envolvente que não parece anúncio, e sim entretenimento. As narrativas devem ser nativas da plataforma, com ritmo, linguagem e estética alinhados ao dispositivo e à cultura do usuário.
O desafio é grande. Vivemos um tempo em que o consumidor decide se quer assistir, pular ou compartilhar. E as marcas que entendem que o algoritmo virou diretor, e que o storytelling virou plataforma, ganham quem importa: o público. Aqueles que ignorarem essas dinâmicas arriscam fazer campanhas impecáveis tecnicamente, porém invisíveis.
Ao final, não basta aparecer, é preciso respeitar o ritmo da atenção e dialogar no idioma do público. No palco do marketing atual, quem conta a história define quem é visto, lembrado e compartilhado.
*Letícia Porfírio é graduada em Comunicação Social – Publicidade e Propaganda, mestre em Comunicação e Linguagens, doutoranda em Comunicação e Linguagens e professora do CST Marketing Digital na Uninter.
