Por Jochen Kumm, CEO da Baby Vision Care*
A visão é um dos sentidos mais complexos e essenciais para o desenvolvimento humano. Nos primeiros meses de vida, ela não apenas orienta a percepção do ambiente, mas também é determinante na formação das conexões cerebrais e na interação social. Segundo a American Optometric Association (AOA), cerca de 80% das informações que o cérebro de um bebê recebe vêm da visão, evidenciando a necessidade de garantir que esse desenvolvimento ocorra de forma saudável. No entanto, a saúde ocular infantil ainda é muitas vezes negligenciada, e doenças silenciosas podem comprometer irreversivelmente a qualidade de vida das crianças.
Estudos da World Health Organization (WHO) e do National Eye Institute (NEI) mostram que as bases da visão se consolidam até os dois anos de idade, tornando esse período o mais sensível para o desenvolvimento ocular e cerebral. A Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) reforça que a estimulação visual precoce é essencial para o desenvolvimento cognitivo, motor e social. Assim, qualquer alteração ou deficiência visual não identificada nessa fase pode afetar de forma duradoura o aprendizado, a coordenação motora e a socialização da criança.
A triagem oftalmológica neonatal e os exames periódicos nos primeiros meses são fundamentais para identificar precocemente doenças muitas vezes silenciosas. Quando detectadas a tempo, essas condições têm altas chances de tratamento e reversão, prevenindo a cegueira infantil e seus impactos no desenvolvimento global. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), 70% das causas de cegueira infantil poderiam ser evitadas ou tratadas com diagnóstico precoce. Ainda assim, a realidade está longe desse ideal: um em cada dez bebês nasce com alguma alteração ocular detectável, reforçando a importância de ampliar a triagem neonatal.
Entre as principais condições que podem ser identificadas precocemente estão catarata congênita, retinoblastoma, retinopatia da prematuridade, glaucoma congênito, hemorragias e traumas. Muitas dessas doenças são inicialmente assintomáticas, mas podem evoluir rapidamente e causar danos irreversíveis. O retinoblastoma, por exemplo, é um câncer ocular raro e agressivo que pode levar à perda total da visão e até à morte se não diagnosticado precocemente. A catarata congênita, por sua vez, pode ser corrigida cirurgicamente, mas, se não detectada nos primeiros meses, compromete permanentemente a visão da criança.
A tecnologia tem se mostrado uma grande aliada na detecção precoce. O Teste do Olhinho Ampliado, por exemplo, é um exame rápido, não invasivo e seguro, realizado com câmeras de retina de alta resolução. As imagens capturadas são analisadas por oftalmologistas especializados em neonatologia, aumentando significativamente a precisão do diagnóstico. Estudos indicam que exames com imagem de retina podem multiplicar por até 10 a capacidade de identificar doenças oculares graves em comparação ao teste tradicional, preservando a visão e a qualidade de vida de milhares de crianças a cada ano.
Além dos benefícios clínicos, a detecção precoce tem impacto social relevante. Ela evita procedimentos invasivos, reduz o tempo de internação, diminui custos médicos e alivia o sofrimento das famílias. Mais importante, garante que a criança possa se desenvolver plenamente, sem as limitações impostas por uma deficiência visual. A visão não é apenas um sentido, mas uma porta de entrada para aprendizado, comunicação e autonomia. Protegê-la nos primeiros meses é um investimento no futuro da criança e da sociedade.
Frente a essa realidade, pais, profissionais de saúde e gestores públicos precisam assumir a saúde ocular infantil como prioridade. A triagem oftalmológica neonatal não pode ser opcional. Exames como o Teste do Olhinho Ampliado devem ser incorporados à rotina de hospitais e maternidades, garantindo acesso a um diagnóstico precoce e preciso. Informação e conscientização são as melhores ferramentas para mudar essa realidade. Pais devem ser orientados sobre a importância dos exames oftalmológicos e os sinais de alerta que podem indicar problemas visuais.
Garantir a saúde ocular desde os primeiros meses de vida é um direito fundamental de toda criança. Proteger esse desenvolvimento é uma responsabilidade coletiva que exige compromisso, investimento e ação. Não podemos permitir que doenças silenciosas roubem o futuro das nossas crianças. A triagem oftalmológica neonatal salva vidas, preserva sonhos e constrói um amanhã mais justo e inclusivo. Que essa consciência se transforme em prática, e que nenhum bebê tenha sua visão comprometida por falta de diagnóstico ou cuidado.
*Jochen Kumm é CEO da Baby Vision Care responsável por operar o Teste do Olhinho Ampliado. Com passagem pela Universidade de Harvard e diversas experiências profissionais envolvendo machine learning e inteligência artificial, Jochen trabalha ativamente no desenvolvimento de tecnologias que sejam capazes de prevenir condições oculares em recém-nascidos e de aprimorar a saúde reprodutiva das mulher.
