Da Redação
Especialista, Dr. Josué Montedonio, alerta para os impactos das redes sociais na autoestima e reforça a importância de responsabilidade ética na prática médica
Setembro é marcado por campanhas de prevenção ao suicídio e promoção da saúde mental. No entanto, em meio a esse debate, um tema pouco explorado ganha relevância: a conexão direta entre estética, autoestima e bem-estar psicológico. Para o cirurgião plástico Dr. Josué Montedonio, essa relação é profunda e exige atenção redobrada em tempos de redes sociais e padrões irreais de beleza.
O avanço das mídias sociais redefiniu a forma como as pessoas se percebem. “O ‘normal’ passou a ser aquilo que se repete no feed: rostos retocados, corpos esculpidos, juventude eterna”, explica Montedonio. Essa exposição, segundo ele, cria uma percepção distorcida da realidade e pode desencadear inseguranças ou até transtornos como o dismorfo corporal, em que o indivíduo enxerga imperfeições inexistentes.
Se antes o julgamento vinha de círculos próximos, família, amigos e colegas, hoje qualquer pessoa está exposta ao olhar crítico de milhares de desconhecidos. “A pressão estética nunca foi tão intensa”, afirma.
Na visão do especialista, a cirurgia plástica pode ser aliada ou vilã. “O lado positivo é quando corrige imperfeições, resgata a confiança e eleva a autoestima. O negativo é quando se transforma em obsessão pela perfeição”, destaca.
Casos de frustração, distúrbios alimentares, depressão e até automutilação podem ter origem nessa busca incessante por padrões inalcançáveis. “Muitos pacientes chegam querendo se transformar em outra pessoa, geralmente influenciadores ou celebridades. Mas cada indivíduo é único. A cirurgia não deve replicar modelos, mas sim revelar a melhor versão de quem busca o procedimento.”
Em um cenário de banalização da estética, Montedonio ressalta a importância da responsabilidade médica. “Cabe ao cirurgião informar com clareza os riscos e benefícios, alinhar expectativas e, em alguns casos, até desaconselhar a cirurgia”, diz.
Ele lembra ainda que o Código de Ética Médica proíbe a divulgação de fotos de “antes e depois” — prática comum nas redes sociais. “Essa norma existe para proteger o paciente de falsas expectativas, já que nenhum resultado é replicável em outra pessoa.”
O cirurgião reforça que o Brasil, marcado pela miscigenação, não pode se submeter a um único ideal de beleza. “Nossa diversidade é nossa riqueza. Nenhum corpo é errado. A comparação constante é uma armadilha que nos afasta da aceitação das nossas singularidades.”
Para Montedonio, a chave está em exercitar a empatia e a autocompaixão. “Não existe perfeição. O que precisamos é construir uma autoestima sólida e realista.”
Neste Setembro Amarelo, ele deixa um convite: “Que possamos ser menos críticos com nós mesmos e mais solidários com os outros. Só assim criaremos um ambiente mais saudável, dentro e fora das redes sociais.”