Da Redação
Médico ressalta critérios, mitos e benefícios, além do papel das famílias nesse processo que transforma vidas
No Brasil, mais de 43 mil pessoas aguardam na fila por um transplante, sendo que mais de 28 mil necessitam de uma córnea, segundo dados do Ministério da Saúde. Considerado um dos procedimentos que mais despertam dúvidas, é também um dos mais realizados no país. Para ampliar a conscientização sobre o tema, a Semana Nacional da Doação de Órgãos chama a atenção para a importância desse gesto que pode transformar vidas. “O transplante mais comum é o de córnea, devido à sua importância na visão, já que ela é chamada de ‘janela do olho’. Doenças como ceratocone, infecções e traumas estão entre as principais causas que danificam essa estrutura”, explica o médico oftalmologista especialista do hospital Oftalmos, Paulo Ferreira. Além da córnea, outros tecidos oculares também podem ser doados, como a esclera (a parte branca do olho) e, em casos específicos, estruturas para pesquisa científica.
Entre os fatores que podem levar um paciente à fila de transplante estão doenças degenerativas, como o ceratocone; infecções graves, como úlcera de córnea; lesões traumáticas resultantes de acidentes; e complicações cirúrgicas ou condições congênitas. Para que a doação seja possível, alguns critérios precisam ser atendidos, como o óbito confirmado do doador, a ausência de infecções graves, entre elas HIV, hepatites ou sepse, a viabilidade do tecido no momento da retirada e o consentimento da família. “Mesmo que o desejo tenha sido manifestado em vida, a autorização dos familiares é imprescindível”, reforça Ferreira.
Segundo ele, o processo exige muita rapidez. “As córneas precisam ser retiradas em até seis horas após o óbito, garantindo sua funcionalidade. Depois disso, podem ser armazenadas em bancos de olhos por alguns dias, de acordo com o método de conservação”, esclarece. O procedimento também envolve documentações, autorização legal e registro em bancos de dados que priorizam a lista de espera conforme critérios de urgência e técnicos.
Do gesto solidário ao impacto real
O efeito da doação de córnea é imensurável. “Pode restaurar parcial ou totalmente a visão, devolvendo autonomia, qualidade de vida e, muitas vezes, permitindo ao paciente retomar atividades profissionais e acadêmicas”, destaca o médico do Oftalmos. No entanto, apesar dos avanços ao longo dos anos, ainda há preconceitos e mitos que precisam ser vencidos antes mesmo da situação ocorrer. “É fundamental que a população saiba que a doação não prejudica a aparência do doador e que o processo é realizado com todo respeito e ética”, acrescenta.
Para ajudar a aumentar as doações, a principal orientação é expressar o desejo à família. “Essa conversa é essencial para que, no momento da decisão, o familiar esteja ciente e possa autorizar. É importante lembrar ainda que os critérios de escolha dos receptores seguem parâmetros técnicos, garantindo justiça e transparência no processo.” O médico relembra que o papel dos bancos de olhos é fundamental, já que são eles os responsáveis por armazenar e distribuir os tecidos. “O transplante de córnea é um gesto nobre, capaz de devolver a visão e transformar vidas. Nesta semana, a mensagem é clara: converse com sua família e diga que você deseja ser a esperança na vida de alguém”, finaliza.