Redação Plenax – Flavia Andrade
Uma articulação direta do vice-presidente Geraldo Alckmin com empresários do setor têxtil impediu que a cadeia produtiva enfrentasse um colapso já no início de 2026. O governo federal decidiu revogar a medida antidumping sobre fios de poliamida 6 importados da China, insumo essencial para a produção de roupas esportivas, íntimas e uniformes escolares após avaliação técnica e mobilização da indústria.
A sobretaxa de US$ 1,97 por quilo poderia elevar em até 76% o custo do fio, aumentando em até 30% o preço final dos produtos e comprometendo milhares de empresas em todo o país. Sem produção nacional de poliamida 6, a medida colocaria a indústria em risco imediato de desabastecimento.
A decisão do governo garantiu a continuidade da produção e abriu caminho para a construção de uma nova política industrial para o setor têxtil.
Articulação política e escuta técnica
O encontro contou com a presença dos senadores Esperidião Amin e Cid Gomes, que reforçaram politicamente o pleito do setor. Empresas como LIVE!, Texneo, Diklatex, Rosset, DeMillus, CrisDu e Moça Bella apresentaram dados técnicos que, segundo representantes, não haviam sido considerados no processo inicial.
O sócio e COO da LIVE!, Paulo Boss Demo, afirma que a intervenção de Alckmin foi determinante:
“Ele evitou um choque econômico que atingiria toda a cadeia têxtil do país. Agora temos a oportunidade de construir uma política industrial coerente com a realidade do mercado e com a necessidade de fortalecer a indústria têxtil nacional.”
Dependência externa e risco de ruptura
O Brasil consome cerca de 80 mil toneladas anuais de poliamida 6, das quais metade é fornecida pela empresa chinesa Huading Nylon. Não há produção nacional desse insumo, e a poliamida 6.6 — fabricada no país — não substitui tecnicamente a PA6 nas aplicações têxteis.
“A aplicação do antidumping desestruturaria uma cadeia que ocupa a 4ª posição mundial em produção de vestuário”, explica Fabrício Axt, sócio-diretor da Texneo.
Empregos sob ameaça
Dados da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit) apontam que o setor reúne 25,3 mil empresas e gera 1,3 milhão de empregos diretos, movimentando R$ 32,9 bilhões em salários.
Entre os impactos apresentados ao governo, destacam-se:
Rosset – 1.200 empregos diretos
RVB – 600 empregos diretos
Comercial Marimar – 90% das compras dependem de importação de PA6
DeMillus – 8.000 empregos diretos + 280 mil revendedoras
CrisDu – 900 empregos diretos + 220 mil mulheres na força comercial
LIVE! – 3.000 empregos diretos e 4.000 indiretos
CPS – 5.500 empregos diretos
Moça Bella – 3.000 empregos diretos
Essas empresas representam elos essenciais da cadeia — da fabricação de malhas à confecção e ao varejo.
Impacto fiscal e futuro da política industrial
As importações brasileiras de poliamida 6 geram cerca de US$ 60 milhões por ano em arrecadação, equivalentes a aproximadamente R$ 340 milhões.
Com a suspensão da medida, governo e setor privado iniciam um novo ciclo de diálogo para construir uma política industrial voltada à inovação, previsibilidade e redução da dependência externa.
As empresas reiteram que agora existe uma oportunidade concreta de fortalecer a competitividade da indústria têxtil brasileira de forma sustentável.

