Redação Plenax – Flavia Andrade
Especialista alerta para erros cotidianos que mascaram doenças e colocam a visão em perigo
Um pequeno frasco pode parecer solução rápida para ardência, coceira ou olho vermelho. Basta pingar duas gotas e o alívio vem. Por isso, muita gente recorre ao que está no armário do banheiro ou ao que um familiar indicou — e a sensação imediata reforça a falsa ideia de segurança. Mas, quando se trata da saúde dos olhos, a simplicidade é apenas aparente: automedicar-se com colírios pode esconder riscos sérios e prejuízos duradouros à visão.
A oftalmologista Dra. Elba Ferrão, do IOBH – Instituto de Olhos de Belo Horizonte, alerta que o uso de colírios sem orientação médica continua sendo um hábito perigoso. “O maior risco é tratar sem diagnóstico. Cada doença exige um tipo de colírio. Quando a escolha é errada, o quadro pode piorar e gerar efeitos colaterais importantes”, explica.
Corticoides: alívio rápido, danos silenciosos
Entre os colírios que exigem mais cautela, os corticoides lideram a lista. Eles realmente aliviam sintomas de forma quase imediata, mas podem causar consequências graves quando usados de maneira incorreta.
“O corticoide pode aumentar a pressão intraocular e danificar o nervo óptico, levando à perda de campo visual. Sem medir essa pressão — algo que só o oftalmologista faz — a progressão passa despercebida”, afirma.
Além disso, o uso prolongado pode acelerar o surgimento de catarata, tanto em colírios quanto em medicamentos orais.
O perigo de “camuflar” sintomas
O famoso olho vermelho, por exemplo, é um sinal que ajuda no diagnóstico. “A intensidade e o tipo de hiperemia orientam o tratamento. Quando o paciente tenta resolver sozinho, mascara informações essenciais e atrapalha a condução médica”, explica.
Antibióticos: só quando necessário
Outro erro comum é usar antibióticos sem indicação. Isso prejudica a flora natural da superfície ocular e contribui para a resistência bacteriana. “Aplicar antibiótico sem secreção purulenta é desperdício e risco. Na próxima infecção, a bactéria pode não responder mais ao medicamento”, alerta a especialista.
Mitos que persistem
A Dra. Elba destaca crenças populares que levam ao uso inadequado:
“Sobrou colírio, posso usar novamente.” Errado: cada paciente e cada doença exigem avaliação específica.
“Todo olho vermelho é conjuntivite contagiosa.” Muitos casos, como conjuntivite alérgica, não têm relação com infecção nem risco de transmissão.
Quando é urgência
Alguns sintomas exigem atendimento imediato:
Dor ocular
Perda súbita da visão
Secreção purulenta
“O diagnóstico rápido é crucial para evitar danos permanentes. Um exemplo clássico é usar corticoide sem saber que tem glaucoma — isso aumenta ainda mais a pressão e agrava a doença”, reforça.
Armazenamento e validade: detalhes que importam
Compartilhar colírios é proibido: a ponta do frasco pode encostar na conjuntiva e contaminar o produto.
Também é importante observar:
Validade após abertura (geralmente até 30 dias)
Produtos sem conservantes, que duram menos
Colírios como latanoprosta, que exigem refrigeração antes do uso, mas mantêm estabilidade por cerca de 60 dias fora da geladeira
“Leia sempre as orientações na embalagem”, orienta.
O caminho mais seguro
Diante de sintomas aparentemente simples, a tentação de resolver sozinho é grande. Mas, como reforça a especialista, a melhor conduta é sempre buscar um oftalmologista.
“Só a avaliação correta preserva a saúde ocular. O colírio certo no momento errado pode trazer um problema difícil de reverter”, finaliza a Dra. Elba Ferrão.

