Redação Plenax – Flavia Andrade
Segurança, saúde e contas compõem a tríplice insatisfação nacional; 52% reprovam o atendimento de saúde e 45% já acumulam boletos atrasados
O brasileiro chega a 2025 cansado, pessimista e descrente. É o que mostra uma pesquisa da Hibou, instituto especializado em comportamento do consumidor, que ouviu 1.433 pessoas em todo o país. Mesmo com sinais tímidos de recuperação econômica, a sensação majoritária é de piora na qualidade de vida — um retrato de frustração acumulada entre crise política, inflação persistente e mudanças no trabalho.
Fim do home office agrava o humor do trabalhador
A volta ao presencial é um dos pontos de maior desgaste do ano.
Metade do país acredita que trabalhar mais no escritório piora a rotina. O impacto é ainda mais forte entre os jovens de 16 a 34 anos — 63% avaliam negativamente o retorno.
A percepção muda entre os mais velhos: 21% dos entrevistados acima dos 45 anos enxergam melhora no presencial. A diferença expõe uma ruptura geracional sobre qualidade de vida, autonomia e tempo livre.
Saúde e segurança: áreas que mais pioraram
A saúde lidera o ranking de decepção:
52% estão insatisfeitos ou muito insatisfeitos com o atendimento.
Apenas 17% relatam satisfação.
Filas, preços altos e dificuldade de acesso são as queixas mais citadas.
Na segurança pública, a sensação de deterioração é ainda mais evidente:
39% acreditam que a situação está muito pior.
Outros 17% dizem que piorou um pouco.
Só 14% identificam avanços.
O resultado compõe o retrato de uma população emocionalmente pressionada.
Política perde impacto emocional
Nem escândalos políticos conseguem alterar o humor do país.
A prisão do ex-presidente Jair Bolsonaro, após adulterar a tornozeleira eletrônica, não mexeu com a maioria dos entrevistados.
49% afirmam que o episódio “não muda nada”.
16% dizem que piora a percepção.
11% acham que melhora.
Segundo Lígia Mello, CSO da Hibou, o dado reflete saturação:
“O brasileiro está exausto de crises repetidas e já não espera transformação.”
Vida real ignora queda da inflação
Mesmo com desaceleração dos índices oficiais, o custo de vida continua pesado:
50% dizem que a renda está igual ou pior.
Só 8% sentem melhora real.
45% já têm contas atrasadas.
35% pagam tudo, mas com muita dificuldade.
No supermercado, o cenário é praticamente unânime:
52% afirmam que os preços subiram muito.
26% dizem que subiram um pouco.
A conta de luz se destaca como vilã:
73% sentiram aumento na energia elétrica.
Tecnologia divide opiniões
A inteligência artificial, cada vez mais presente no cotidiano, desperta percepções diferentes:
47% acreditam que a IA facilita a vida.
18% dizem que complica.
Entre os jovens, 24% afirmam que a IA facilita muito o dia a dia.
Já a possível adoção de regras que restringem reparos de eletrônicos preocupa:
59% temem que os consertos fiquem mais caros.
21% acreditam que seriam obrigados a trocar aparelhos com mais frequência.
Para Lígia Mello, isso reflete vigilância aos gastos:
“Qualquer sinal de nova despesa gera insegurança financeira.”
Clima assusta, COP30 não convence
88% dos brasileiros acreditam que temporais e alagamentos recentes são consequência direta das mudanças climáticas.
Mas apenas 18% veem a COP30, que será realizada no Brasil, como uma oportunidade de benefícios reais.
Para 36%, o evento não terá impacto.
E 26% acham que pode até piorar a imagem do país.
A população reconhece o problema climático, mas não confia nas soluções propostas em grandes encontros internacionais.

