Redação Plenax – Flavia Andrade
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu, neste domingo, uma atuação mais ousada do Fórum de Diálogo Índia-Brasil-África do Sul (IBAS). Durante a 6ª Cúpula de Líderes, realizada à margem do G20, Lula afirmou que o trio tem capacidade e legitimidade para assumir protagonismo em debates que moldarão o futuro global — da inteligência artificial à defesa dos direitos humanos.
Depois de mais de uma década sem reunião de cúpula, o encontro marcou a retomada da coordenação trilateral criada em 2003. Para Lula, o diálogo renovado entre Brasil, Índia e África do Sul reacende “um sentimento de esperança” e fortalece a voz das grandes democracias do Sul Global.
“A condição de grandes emergentes confere ao IBAS identidade própria. Compartilhamos muitas causas e temos muito a dizer para o mundo”, afirmou o presidente, ao lado do primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, e do presidente sul-africano, Cyril Ramaphosa.
Lula defendeu que o grupo avance em temas como governança de dados e inteligência artificial, além de aprofundar o diálogo em saúde, ciência, vacinas, medicamentos, direitos humanos, equidade de gênero e defesa da democracia. Para ele, o IBAS reúne confiança política suficiente para tratar de pautas sensíveis, incluindo combate ao extremismo e promoção do trabalho decente.
O presidente voltou a destacar a urgência climática e a necessidade de proteger populações tradicionalmente afetadas. Mencionou propostas defendidas pelo Brasil durante a COP30, em Belém, como o apoio a pequenos produtores, o fortalecimento de comunidades que vivem das florestas e o Fundo Florestas Tropicais para Sempre, lançado durante o evento.
Lula também resgatou o papel do Fundo IBAS, criado em 2004 e citado como modelo eficaz de cooperação Sul-Sul. A iniciativa já financiou 51 projetos em 40 países voltados à redução da pobreza e da insegurança alimentar. Segundo ele, o mecanismo serviu de inspiração para a Aliança Global contra a Fome e a Pobreza, incorporada pelo G20 sob liderança brasileira em 2024.
Para o presidente, a coordenação trilateral do IBAS pode fortalecer de maneira permanente a atuação conjunta na ONU, no G20 e no BRICS, garantindo presença contínua dos países emergentes na reconfiguração da ordem mundial. “O sentimento que tenho com esta reunião é de esperança”, reforçou.
Contexto ampliado do G20
A participação de Lula ocorre em meio a uma agenda intensa. No sábado, nas primeiras sessões do G20, ele defendeu declarar a desigualdade uma “emergência global” e propôs medidas como taxação dos super-ricos e troca de dívida por desenvolvimento climático. O presidente também discutiu caminhos para a transição energética e o abandono progressivo dos combustíveis fósseis.
Durante o fim de semana, Lula ainda manteve reunião bilateral com o chanceler da Alemanha, Friedrich Merz, e participou de uma terceira sessão do G20 voltada à construção de um futuro mais justo e sustentável.
Criado em 1999, o G20 reúne economias que representam mais de 80% do PIB mundial, 75% do comércio global e 60% da população do planeta. Em 2025, sob o lema “Solidariedade, Igualdade e Sustentabilidade”, a África do Sul conduz uma agenda focada em resiliência a desastres, sustentabilidade da dívida, transição energética justa e desenvolvimento baseado em minerais críticos.
Os países do bloco têm peso central no comércio internacional: em 2021, exportaram juntos US$ 17 trilhões — alta de 107% em comparação a 2005. O Brasil, dentro do grupo, é fornecedor de aeronaves, petróleo, minérios, aço e produtos do agronegócio.

