Redação Plenax – Flavia Andrade
Especialistas destacam que já é possível desenvolver a pecuária com menor impacto ambiental, reduzindo compactação do solo, neutralizando emissões de gases de efeito estufa e aumentando a lotação animal sem ampliar áreas de pastagem.
O Brasil, sede de um dos maiores encontros globais sobre clima e meio ambiente, tem atraído a atenção do mundo durante a COP30, que ocorre até o dia 21 de novembro em Belém (PA). Conhecido como um dos principais produtores de alimentos do planeta, o país também se destaca por iniciativas que unem agropecuária, inovação e sustentabilidade.
Durante a conferência, um dos destaques foi a divulgação de dados da Embrapa Territorial, reforçando o papel do setor rural na preservação ambiental. O estudo aponta que produtores brasileiros conservam 29% das áreas de vegetação nativa dentro das próprias propriedades. Para cada hectare destinado à agropecuária, há 0,9 hectare preservado internamente e 2,1 hectares de vegetação nativa total.
O zootecnista Oswaldo Stival Neto, especialista em produção de ruminantes e pastagens, ressalta que várias práticas já adotadas no campo respondem às exigências ambientais globais. Entre elas, ganha espaço o uso do capim Tifton 85, que tem se tornado mais conhecido pelos pecuaristas brasileiros.
Resultado do cruzamento entre uma planta de clima temperado dos EUA e outra de clima tropical da África, o Tifton 85 — desenvolvido em 1992 — possui alta produção de matéria seca, cobertura densa que protege o solo contra erosão e valor nutritivo até duas vezes maior que o da braquiária, espécie amplamente utilizada no país.
Estudos internacionais indicam que o Tifton 85 pode sequestrar até cinco vezes mais carbono que outras forrageiras. Pesquisas brasileiras reforçam esse potencial: levantamento da Epagri (SC) mostra que raízes de pastagens perenes como o Tifton podem ultrapassar 2 a 3 metros de profundidade. Quando bem manejadas, essas plantas podem remover até 3,79 toneladas de CO₂ equivalente por hectare ao ano.
Segundo Stival Neto, a baixa eficiência do plantio por ramas dificultou a expansão do Tifton 85 no Brasil nas últimas décadas. Porém, uma técnica nacional de plantio por mudas — semelhante ao cultivo de tomate ou batata — tem acelerado a adoção da pastagem. O especialista hoje atua no desenvolvimento de mudas matrizes, melhoramento genético e implantação mecanizada em propriedades rurais.
Para ele, os produtores estão abertos à transição sustentável.
“O agropecuarista quer usar a terra de forma sustentável. Basta mostrarmos o caminho. Precisamos desenvolver uma agricultura e pecuária com impacto positivo real”, afirma o zootecnista, que já leva a tecnologia de Goiás para diversas regiões do país.
Mais carbono no solo, menos emissões e menos aquecimento global
O Tifton 85 ajuda a combater desafios históricos da pecuária: compactação do solo, perda de biodiversidade e emissões de gases de efeito estufa. A fisiologia da planta explica parte desses benefícios.
Com crescimento estolonífero, o Tifton cobre completamente o solo, ao contrário de pastagens em touceiras, que deixam áreas descobertas. Essa “camada protetora” aumenta a infiltração da água da chuva, reduz erosão e evita que esterco e resíduos contaminem rios e córregos.
O sistema também cria um ciclo regenerativo do solo. As fezes dos animais, a queda de folhas e a formação de palhada enriquecem a matéria orgânica, alimentando microrganismos essenciais para manter o carbono fixado no solo.
“Todo o carbono sequestrado vai para as raízes e para a microbiota do solo. Com mais matéria orgânica, aumenta a vida microbiana — que é basicamente composta de carbono — e, assim, ocorre maior fixação do carbono”, explica Stival.
Outra vantagem é o aumento significativo da produtividade sem necessidade de abrir novas áreas. Com valor nutritivo cerca do dobro do capim braquiária, é possível saltar de uma para até sete cabeças por hectare e alcançar cerca de 40 arrobas por hectare — tudo isso sem uso de ração.
“Com as tecnologias corretas, o Brasil poderia atender à demanda global de 50% a mais de proteína animal usando apenas 20% da área de pastagens atual”, projeta o especialista.
Fonte: Zootecnista – Oswaldo Stival Neto
