Da Redação
A vacinação é uma das medidas de saúde pública mais eficazes, com impacto ainda maior nos primeiros meses de vida. No entanto, dados apontam para uma queda preocupante nas taxas de imunização infantil no Brasil. Em 2024, o país voltou a figurar entre os 20 com maior número de crianças não vacinadas, ocupando a 17ª posição no ranking global, segundo OMS, com 229 mil crianças sem receber vacinas essenciais nos primeiros meses de vida, um aumento significativo em relação aos 103 mil casos de 2023. (1)
Além disso, o Anuário VacinaBR 2025, produzido por Unicef, revela que nenhuma das vacinas infantis do calendário nacional atingiu as metas de cobertura estabelecidas pelo Programa Nacional de Imunizações (PNI) em 2023, apesar de uma leve recuperação iniciada em 2022 (2). Esse cenário é alarmante, pois o primeiro ano de vida é decisivo: o sistema imunológico do bebê está em formação e a imunidade transmitida pela mãe começa a diminuir. Nesse contexto, as vacinas tornam-se essenciais para prevenir infecções graves e garantir o desenvolvimento saudável.
O Dr. André Bon, infectologista do laboratório Exame, da Dasa, líder em medicina diagnóstica no Brasil, no Distrito Federal, alerta para o risco da desinformação: “A vacinação é uma das ferramentas mais poderosas para transformar a saúde das pessoas. No primeiro ano, o bebê é mais vulnerável a infecções sérias, e cada dose é fundamental para construir imunidade duradoura, evitando doenças que podem causar sequelas ou até serem fatais.”
Calendário vacinal: orientações essenciais
O calendário pediátrico é planejado para oferecer proteção nos períodos mais críticos do desenvolvimento. Segundo a Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), várias vacinas devem ser aplicadas já no primeiro ano, iniciando no nascimento. Principais vacinas dos 0 aos 12 meses:
- BCG (Bacilo Calmette-Guérin): aplicada ao nascer, previne formas graves de tuberculose. Em bebês com menos de 2 kg, é adiada até que alcancem o peso corporal adequado.
- Hepatite B: primeira dose nas primeiras 12 horas de vida, essencial quando a mãe é portadora do vírus. O esquema pode incluir quatro doses em prematuros ou bebês com baixo peso.
- Rotavírus: aplicada a partir de 2 meses de idade, protege contra diarreias graves e hospitalizações. A primeira dose deve ocorrer até os 12 meses de vida.
- Tríplice Bacteriana (DTPa), Haemophilus influenzae b e Poliomielite inativada (VIP): iniciadas aos 2 meses, previnem difteria, tétano, coqueluche, meningite, pneumonia e poliomielite. Em prematuros, recomenda-se a versão acelular da tríplice, que reduz eventos adversos.
- Pneumocócica Conjugada: também aos 2 meses, protege contra pneumonia, meningite e otite.
- Meningocócicas Conjugadas (ACWY e B): aplicadas a partir dos 3 meses, previnem meningite e outras infecções graves.
- Influenza: indicada anualmente a partir dos 6 meses, conforme sazonalidade do vírus.
- Febre Amarela: aplicada aos 9 meses em áreas de risco.
- Covid-19: rotina entre 6 meses e 4 anos, com doses específicas aos 6 e 7 meses. Em crianças acima de 5 anos, segue critérios de grupos prioritários ou de ausência de dose prévia.
Imunização passiva contra o Vírus Sincicial Respiratório (VSR)
Além das vacinas, a imunização passiva é decisiva contra o VSR, principal causa de bronquiolite e pneumonia em crianças menores de 2 anos.
Estratégias disponíveis:
- Palivizumabe: anticorpo monoclonal indicado para prematuros e bebês com condições específicas, aplicado mensalmente durante o pico do vírus.
- Nirsevimabe (Beyfortus®): proteção prolongada em dose única, indicada para bebês até 12 meses e crianças vulneráveis até 2 anos. Garante imunidade por até 5 meses.
- Vacinação de gestantes (Abrysvo®): aplicada entre 24 e 36 semanas de gestação, transfere anticorpos pela placenta, protegendo o bebê nos primeiros meses de vida. É a única vacina contra VSR autorizada para gestantes e idosos.
A vacinação é um dos pilares da saúde preventiva e deve ser mantida atualizada para proteger não só o bebê, mas toda a comunidade. “É essencial que pais e responsáveis conversem com pediatras, esclareçam dúvidas e sigam as recomendações médicas. A comunicação clara e a confiança nos profissionais são fundamentais para garantir a proteção adequada das crianças”, reforça o especialista.
